O Baptismo na Água (II)

cmo.jpgINTRODUÇÃO

     A simples admissão da possibilidade de erro acarreta o terrível medo da mudança, na mentalidade da maioria. Queremos desmistificar esta síndroma da mudança que paira sobre muitos. Para eles, mudar significa degenerar.

     Mas quem disse que mudar significa degenerar? Pode, em certas circunstâncias, ter de facto esse significado, mas não sempre. Mudar também significa progresso, e estamos certos que todo o crente sincero o deseja; mas não é estranho que muitos desejem progresso sem mudança? Como pode haver progresso sem mudança até mesmo no âmbito secular?
 
     Apesar de nos considerarmos conservadores, não nos queremos tornar preservativos, e tentar a todo o custo manter as coisas como estão. A Igreja é um corpo; como tal muda; mudança motivada pelo amor, dirigida pela verdade Bíblica e dinamizada pelo Espírito Santo.

     Há na Bíblia dois livros que tratam este delicado assunto da mudança — Jeremias e Hebreus.

     O profeta Jeremias viu que o povo de Israel seria derrotado pelos Babilónicos e arrastado para o cativeiro. Perante isso, chamou-os ao arrependimento e ao abandono dos seus pecados. Porém os Israelitas estavam contentes com os seus "tesouros espirituais". No fim de contas tinham o templo, a arca, a lei, o concerto e os sacrifícios. Há séculos que possuíam, apreciavam e protegiam religiosamente tudo aquilo, de modo que nada de desastroso ou catastrófico poderia acontecer ao reino de Judá.

     "Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, Templo do Senhor, Templo do Senhor é este", avisou Jeremias. Jeremias viu claramente que estava a chegar o dia em que o templo seria incendiado e destruído; que as coisas mudariam. (Jer. 7.4).

     "E sucederá que, quando vos multiplicardes e frutificardes na terra, naqueles dias, diz o Senhor, nunca mais se dirá: a arca do concerto do Senhor, nem lhes virá ao coração, nem dela se lembrarão e visitarão; isto não se fará mais" (3.16). NÃO MAIS ARCA?! REPUGNANTE HERESIA!!!

     Jeremias viu o dia em que um novo concerto seria introduzido e o velho desapareceria (31.31-40). Viu o dia em que os sacrifícios de animais não seriam mais reconhecidos (7.21-23), nem mesmo o rito solene da circuncisão (4.4). Quando Jeremias pregou isto e ensinou estas "novas doutrinas", os principais dos seus dias, tanto religiosos como políticos, consideraram-no como um herege e perturbador. Contudo Jeremias estava certo. Deus estava a operar mudanças, quer o povo de Israel quisesse ou não.

     O escritor da carta aos Hebreus trouxe-lhes à mente que em Jesus Cristo tudo era melhor. Era verdade que o templo ainda estava de pé, que os sacerdotes ainda ministravam; mas com a introdução da nova dispensação — a dispensação da graça de Deus — tudo isso fora revogado.

     Os destinatários da epístola aos Hebreus viveram num período de transição, de mudança; período em que dois programas distintos de duas dispensações igualmente distintas chegaram a vigorar ao mesmo tempo — Lei e Graça. Isso aconteceu historicamente no período dos Actos dos Apóstolos. Não deveria ter sido nada fácil para eles aquela mudança. A dispensação da graça despontara, mas a da lei ainda não tinha sido sepultada. Segundo Heb. 12.25-29, o Senhor estava a mudar tudo. Não admira vermos os Hebreus receosos e confusos. Sim, Deus estava a mudar tudo até à própria raiz. A santa cidade de Jerusalém seria destruída, a nação espalhada e o sacerdócio levítico nunca mais serviria nos altares do templo. Porém a obra de Deus prosseguiria segundo um novo caminho, segundo a Sua vontade.

     A resistência à mudança em ambos os casos foi notória e inútil. A verdade vem sempre à tona, e por isso a mudança, mais cedo ou mais tarde, vinga. A resistência e oposição à verdade são, involuntariamente, seus cooperadores e implementadores.

     Pois bem, não tenhamos receio de mudar, conquanto essa mudança seja motivada pelo amor, dirigida pela verdade das Escrituras e dinamizada pelo Espírito Santo. O conservadorismo fanático é míope; é doentio; é farisaísmo; não vê a verdade mas tão-somente a tradição.

     Muitos talvez pensem que agora não há nada a mudar. Num certo sentido é verdade, pois ao contrário do que aconteceu nos dias de Jeremias e dos destinatários da carta aos Hebreus, a revelação Divina das Escrituras nos nossos dias está já há muito completa. Agora já não há mais revelações. Porém, atenção! Não nos esqueçamos que desde bem cedo a Igreja se desviou da fé — corpo de doutrina —, tendo mergulhado no abominante obscurantismo dos chamados séculos das trevas onde perdeu quase tudo quanto de precioso o Senhor lhe legara. Sabemos bem qual foi o resultado: uma igreja mesclada de Cristianismo, Judaísmo e Paganismo que deu pelo nome de Igreja Católica Romana. Perderam-se verdades nos escombros da derrocada e apostasia e introduziram-se erros em forma de doutrina, usos, ritos e costumes. Conhecemos a história. Mais tarde, quando alguns nela abriram os olhos e viram a incongruência, incoerência e contradição daquele sistema com as Escrituras, denunciaram o erro e demarcaram-se de toda aquela infidelidade saindo dela, pois outra alternativa lhes não restava, face ao já aludido conservadorismo fanático que era ali reinante. A esse movimento o mundo deu-lhe o nome de Reforma. Deu-se então início à redescoberta do que se perdera e ao saneamento do imundo e vil que se instalara. A mudança era inevitável, porém o processo lento e progressivo. Lutero e os que se lhe seguiram não redescobriram em anos o que se perdera durante séculos e séculos, e por isso, não obstante se terem libertado de muita coisa errónea, ainda continuaram com muitas crenças e práticas erradas. Têm sido muitos os crentes que até ao presente têm dedicado as suas vidas ao estudo das Escrituras e têm por assim dizer desenterrado dos escombros dos séculos muitas verdades preciosíssimas que se perderam e desarreigado erros que por mera tradição adquiriram raízes de escalracho difíceis, por isso, de desapegar. Entre as últimas verdades redescobertas e erros denunciados, destacamos: arrebatamento da Igreja e a sua distinção da vinda de Cristo à terra para reinar — "a bem-aventurada esperança" da Igreja, sujeição exclusiva a Cristo de cada assembleia local, pluralidade de pastores em cada igreja local; vinda de Cristo para julgar os vivos e os mortos, denominacionalismo e clericalismo. Isto pôs em causa pontos de vista tradicionais. Mudar sempre foi difícil, mas outro rumo não havia senão obedecer antes a Deus... Os crentes usados por Deus para a manifestação destas "novas doutrinas" que traziam ventos de mudança foram quase que odiados. Graças a Deus que, hoje, um grande número de crentes já vê o que só eles parecem ter visto, dando-Lhe muitas graças por eles. Mais recentemente, outros redescobriram que a presente dispensação da graça de Deus era um MISTÉRIO, ou seja, SEGREDO, que Deus nunca revelara a ninguém antes, a não ser a Paulo e por seu intermédio (Efé. 3.1-11); que por conseguinte Paulo e não Pedro é que é o apóstolo por excelência desta dispensação — o apóstolo dos Gentios; que portanto o corpo de Cristo principiou com Paulo e não antes, etc. Ora a redescoberta destes factos claros nas Escrituras, que ainda se encontravam solapados, e por isso escondidos, afectam e MUDAM muitos conceitos errados nutridos desde a negridão dos séculos no que diz respeito à origem, destino e conduta do corpo de Cristo. Um deles trata-se da prática do Baptismo na água.

     Esperamos, e nesse sentido oramos, que as experiências do passado no que concerne a este tipo de "novas doutrinas" poupe o leitor a juízos precipitados.

     Sabemos que não é fácil, para alguém que tenha estado a praticar o baptismo na água há 30, 40 ou 50 anos, mudar de repente e deixar de o realizar. Sabemos que é sempre difícil (quase impossível) um pregador admitir que está errado. As três palavras mais difíceis de um pregador dizer são: "EU ESTOU ERRADO". Isso requer muita humildade, muita espiritualidade.

     O assumir a verdade pode significar ser votado ao ostracismo; não tanto pelos crentes em geral, mas pelos "principais"; e ser considerado persona non grata; mas muito mais importa ser servo de Cristo que agradar aos homens (Gál. 1.10). "Compra a verdade e não a vendas" (Pró. 23.23).

     A razão porque alguns se recusam a fazer um estudo honesto deste assunto, é porque temem que, ao fazê-lo, as suas consciências os persuadam à verdade de que o baptismo na água não está incluído no programa de Deus para a presente dispensação — e que, por a divulgarem publicamente, vejam os seus púlpitos, prestígio e salários (obreiros de tempo integral) sacrificados. Oh, que o Senhor lhes dê a graça de olharem só para Ele e de só d'Ele dependerem!

     Mateus 13.52 afirma que o bom escriba tira dos seus tesouros "coisas novas e velhas". Os modernistas rejeitam os tesouros preciosíssimos das Escrituras, argumentando para tal o facto de serem velhos e ultrapassados. Trata-se dum triste facto deplorável. Mas, que dizer dos muitos crentes que, não obstante apegarem-se tenazmente às velhas verdades, rejeitam as novas? É triste e deplorável ver os meramente professos rejeitarem as velhas verdades meramente por estas serem velhas; mas não é menos triste e deplorável ver verdadeiros crentes rejeitarem muitas vezes as novas verdades só por estas serem novas. Será que estes irmãos conseguiram drenar e secar o poço inesgotável das Sagradas Escrituras? Não haverá mais pedras preciosas na Mina inexaurível? Será que já sabemos tudo? Será que já nos encontramos na terra de Canaã, ou ainda nos encontramos no deserto com muita incredulidade?

     "Ouvi a correcção, não a rejeiteis, e sede sábios" (Pró. 8.33).

     Nós somos Bibliófilos (amor à Bíblia) e não Hidrofóbicos (horror à água), a não ser quando injectam nas Escrituras água em porção seca, como infelizmente muitos fazem com textos hidrofrácticos (impermeáveis à água).

     Estimado leitor, não julgue este livro pelo que leu até aqui, como infelizmente alguns fazem só pelas capas ou pelos títulos. Leia-o até ao fim com uma Bíblia aberta ao lado, e no fim, então, sim, "julgue justamente".
 
(Continua)
Carlos Oliveira

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