Perigos
Quando o pastorado numa igreja é desempenhado por um só homem este tende a ceder à ambição pessoal e ao desejo de controlar. Isto não quer dizer que todos os pastores nessas condições cedam a estes instintos negativos, contudo o perigo está sempre latente e é agravado pela falta de freios e contrapesos que a existência de mais pastores proporcionam e oferecem.
Se o pastor for único e falhar moralmente, ou adoecer, ou lhe suceder qualquer outro impedimento, deixa a igreja numa situação muito difícil e complicada – sem direção. Pior ainda, esse pastor, tal Sansão que está “em pé entre as colunas … em que se sustém a casa”, faz desabar todo o edifício. Logicamente que isto é muito mais difícil de acontecer se a igreja tiver vários pastores. Uma equipa de anciãos pode, pela graça de Deus, aguentar e suportar “a casa” se um deles adoecer, cair ou se desviar.
Se a igreja é dirigida por um só pastor e ele cai em falso ensino, toda a igreja pode ser desencaminhada, seguindo a heresia com relativa facilidade. O mesmo será muito mais difícil de acontecer se houverem vários pastores. A pluralidade de pastores é uma grande proteção dada por Deus a cada igreja local.
Segundo a Bíblia, a existência de um só homem na liderança de uma igreja, é mau sinal, pois tende à prepotência e potencia o despotismo, a ditadura, a tirania. O único exemplo que a Bíblia apresenta de um homem assim, encontra-se em III João:
“Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe.
“Pelo que, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja” (Vers. 9,10).
Vantagens
A liderança partilhada tem o benefício de cada pastor ter as suas insuficiências colmatadas pelas suficiências dos demais, e de ter a carga de trabalho aliviada e distribuída por todos. A liderança partilhada traz-lhes uma responsabilidade acrescida – responder perante o presbitério.
Uma igreja com vários pastores beneficia de um ministério equilibrado, múltiplo e diferenciado, incomparavelmente mais enriquecedor, uma vez que os vários pastores se complementam e completam no seu ofício. Paulo não diz que há “diversidade de dons, … de ministérios, … de operações” (1 Cor. 12:4-6)? Isso é verdade também em relação aos pastores.
“… com muitos conselheiros há sucesso” (Provérbios 15:22 NTLH). Quando a responsabilidade é partilhada por vários pastores, a igreja beneficia e lucra da sua sabedoria combinada.
O pastor que serve com outros pastores tem a oportunidade de se sentar para ouvir a pregação de outros. Os pastores também precisam de se alimentar da Palavra de Deus pregada.
Quando a carga é partilhada, cada pastor fica com mais tempo para atividades "comuns". Desse modo será mais fácil para o rebanho lembrar-se que ele, embora pastor, também é, como os demais crentes, uma das ovelhas de Cristo.
Haverá menos tentação de os membros da igreja exaltarem o pastor se houverem outros pastores como ele. Tendo vários pastores, os crentes também se lembrarão mais facilmente que a igreja é de Cristo, e não do pastor.
Quando o pastorado é partilhado os demais crentes entendem mais facilmente que os seus dons também podem ser usados em alguma capacidade na igreja, o que encorajará a sua participação noutros ministérios.
Havendo vários pastores há menos tentação de orgulho por parte de cada pastor. O pastor lembrar-se-á mais facilmente que a igreja não é sua, mas de Cristo. Quando um homem é exaltado guindando-se a figura de proa da igreja, é muito fácil ele ser tentado a desenvolver um estilo de liderança ditatorial.
Conclusão
Nos nossos dias houve-se muitos dizerem, “o pastor da minha igreja …”, referindo-se a um homem. Bem-aventurados são os crentes das igrejas que, pelo contrário, podem dizer, “os pastores da minha igreja …”.
A expressão, “O Pastor da minha igreja”, deveria ser só usada com referência ao Senhor Jesus Cristo, pois Ele é chamado de “O Pastor” por excelência.
É muito salutar e edificante notar nas Escrituras o intento de Deus na dádiva de pastores:
“E vos darei pastores segundo o Meu coração, que vos apascentem com ciência e com inteligência” (Jeremias 3:15).
“E levantarei sobre elas [as Minhas ovelhas] pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor” (Jeremias 23:4).
“Portanto, ó pastores, ouvi a Palavra do Senhor” (Ezequiel 34:7,9).
Em suma, nas igrejas de Deus era costume haver, não um, mas vários pastores (plural) e isto para benefício de cada uma delas. Fomentemos e preservemos este costume.
(Continua)
- C.M.O.