
ENFATIZANDO A SUA RESPONSABILIDADE
Mas o propósito de Paulo não era meramente convenceros seus ouvintes. Ele quis convencê-losda sua responsabilidade para com o único Deus verdadeiro, a quem eles "adoravam" como um entre muitos e além disso como "desconhecido". Ele quis mostrar-lhes que eles deveriam prestar contas a Ele pela sua idolatria e pecado, e depois quis pregar-lhes Cristo.
A afirmação de que "Deus, não [teve] em conta os tempos da ignorância"(Ver. 30) não significa que, até então Deus não tivesse responsabilizado os pagãos. As próprias palavras do apóstolo em Rom. 1:18-32 torna demasiado claro que ele os tornou responsáveis. As Escrituras do Antigo Testamento, também, dão abundante testemunho de que Deus nunca considerou a idolatria como algo inocente, ou os seus pecados dali derivados sem qualquer consequência. O que Paulo quis dizer era simplesmente que até então Deus havia feito vista grossa à idolatria do mundo pagão sem a punir, como se Ele não a visse.
Mas agora, diz o apóstolo, Ele "anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-O dos mortos"(Vers. 30,31).
Alguns têm concluído a partir desta passagem que Paulo, como Pedro antes dele, foi enviado a proclamar principalmente o arrependimento. Isto é um erro.
A palavra arrepender (Gr. Metanoeo) é encontrada pelo menos trinta e uma vezes nos Evangelhos e no princípio dos Atos. Além disso, é-nos dito claramente que o arrependimento, face à proximidade do reino, era o temada mensagem proclamada por João Batista, Cristo e os doze (Mat. 3:1-2; 4:17; Marcos 6:7,12; Luc. 24:47). Em comparação encontramos a palavra usada apenas cinco vezes por Paulo em Atos e em dois desses casos ele refere-se ao que João Batista tinha pregadoa Israel (Atos 13:24; 19:4). Depois, em todas as epístolas de Paulo, encontramos a palavra usada apenas sete vezes (incluindo Hebreus, onde é usada três vezes) e, novamente, vários desses casos não têm ligação à mensagem que Paulo pregou.
Uma vez que a palavra metanoeosignifica uma completa mudança de pensamento, é evidente que qualquer incrédulo que se torna crente arrepende-se no processo. No entanto, também é evidente a partir do acima exposto que a ênfasena mensagem de João Batista, Cristo e os doze, era sobre o arrependimento, contudo não foi assim com Paulo. Um exame tanto da parte final dos Atos como das suas epístolas revelará que a ênfase na sua mensagem estava na graça, que deveria ser apropriada pela fé.
Isto é apropriado, pois, de acordo com o "Evangelho do reino", Israel deveria arrepender-se das suas apostasias e aceitar Cristo como Rei e os Gentios deveriam arrepender-se da sua idolatria e aceitá-lo como Rei. Sob a dispensação que Paulo introduziu, no entanto, os Judeus e os Gentios são encerrados debaixo do pecado e Cristo é oferecido como Aquele que morreu para que eles possam ser "justificados gratuitamente pela Sua graça". Por isso a ênfase está na graça, apropriada pela fé.
Repetimos, no entanto, que é uma questão de ênfase, pois qualquer pecador que crê, arrepende-se. Dada a natureza do caso e aqui, onde Paulo se deparou com os defensores da idolatria e lhes proclamou o único Deus verdadeiro, certamente não é estranho que ele lhes peça uma mudança de coração e pensamento. Isto não indica que ele tenha proclamado, de forma alguma, a mesma mensagem que Pedro e os doze pregaram. De facto, várias distinções devem ser aqui observadas:
1. Eles tinham sido especificamente instruídos a pregar o arrependimento primeiramente aos Judeus(Lucas 24:47), enquanto Paulo mostra aqui a sua relação com "todos os homens, e em todo o lugar". 2. Eles haviam sido enviados a pregar o arrependimento e o batismopara a remissão de pecados (Marcos 16:16; Atos 2:38), enquanto Paulo não menciona o batismo na água aqui e, de facto, afirma em I Coríntios 1:17 que ele nãofoi enviado a batizar. 3. Paulo, aqui, trouxe claramente o arrependimento e o juízo como pano de fundo para a graça que ele queria proclamar se tivesse recebido permissão para prosseguir. Este foi outro dos discursos interrompidos do Livro de Atos.
Considerar, então, que o arrependimento não tem lugar na mensagem Paulina é entender mal a natureza do arrependimento, mas por outro lado, pregaro arrependimento, em vez da graça, é mostrar ignorância da mensagem que o Senhor ressurreto e ascendido confiou a Paulo e a nós.
Como já dissemos, Paulo estava a responder aos defensores da idolatria. É natural que, neste caso, ele os convidasse ao arrependimento e a voltarem-se para o verdadeiro Deus (Cf. I Tes. 1:9). E muito naturalmente ele confirmaria o que Pedro havia dito a respeito da ressurreição de nosso Senhor “para "com justiça ... julgar o mundo".
Mas isto não era tudo o que ele queria dizer. Agora ele procurava sondar e despertar as consciências deles. "Deus ... anuncia [ou, manda]agora a todos os homens, em todo o lugar que se arrependam." Não era uma questão de opinião humana, como os Atenienses costumavam supor, mas de responsabilidade moral. E era do seu interesse voltarem-se para Deus sem demora, porque Ele havia determinado um dia em que o mundo será julgado em justiça por Cristo, que ressuscitou dentre os mortos como "certeza" deste facto.