03-04-11 - Como será o Brasil evangélico em 2020?

Ao mesmo tempo em que os evangélicos crescem numericamente e aumentam de forma considerável a sua influência em todas as esferas da vida nacional brasileira, escândalos e denúncias envolvendo dinheiro, sexo e abuso de poder multiplicam-se e maculam a imagem das igrejas e dos seus líderes. Fala-se em relativização moral e secularização da fé. Na esteira do avanço protestante em terras tupiniquins, estudiosos das ciências da religião costumam avaliar que esse fenómeno pode ser muito bom, uma vez que “os evangélicos não vão apenas mudar a sociedade, mas mudarão com ela”. Tal afirmação tem causado arrepios em pastores e trazido um sério questionamento aos Cristãos: diante de tal quadro já hoje: afinal, como será esse Brasil evangélico de 2020?
Na ponta do lápis - Há quem veja o fenómeno do crescimento evangélico como um avivamento. Outros não aceitam tal interpretação, afinal, para um avivamento não basta o aumento quantitativo, é preciso também o qualitativo. De um jeito ou de outro, o facto é que o Brasil caminha a passos largos para se tornar num futuro bem próximo uma nação de maioria evangélica. Percurso inverso ao da Europa, que abandonou o Cristianismo e agora corre sério risco de se tornar um continente Islâmico. Nesse exercício, não há nada de adivinhação, vontade ou futurologia. É questão de fazer cálculos. “A continuar a taxa de crescimento que os evangélicos tiveram nas últimas décadas, no fim do ano passado, 25,4% de um total de 196,5 milhões de brasileiros, ou seja, quase 50 milhões já eram evangélicos. Já em 2020, metade da população será protestante”, observa a matemática e crente presbiteriana Eunice Stutz Zillner, do Ministério Apoio com Informação (MAI), responsável por análises e projecções no campo religioso.
Uma quantidade tão expressiva de pessoas transformadas pela Palavra de Deus leva a crer que haverá um forte impacto na sociedade brasileira, certo? Errado. Pelo menos, segundo os especialistas ouvidos pela semanal Época, a revista que fez inicialmente a projeção sobre o futuro do país. Para a antropóloga Christina Vital, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), a flexibilidade e a adoção de regras menos rígidas é a razão do exponencial crescimento evangélico. “Enquanto os católicos não aceitam coisas como a camisinha, os evangélicos adaptam-se aos costumes da sociedade. Há igrejas que aceitam gays, por exemplo. Essa tendência deve continuar”, prevê ela.
Visto com esperança por uns, o panorama causa desconfiança e provoca arrepios em outros. Especialmente em que acredita na máxima bíblica de que o crente “não pode se conformar ao mundo, mas deve transformá-lo pela fé” e que defende os valores expressos na Palavra de Deus sem restrições. “A Igreja evangélica desprovida da ética cristã não consegue impactar a sociedade. Aliás, não precisamos esperar o futuro para ver o que acontecerá. Podemos observar hoje. Décadas atrás, falávamos em católicos nominais. Agora, já temos os evangélicos nominais, aqueles que frequentam os cultos apenas atrás de bênçãos. Sem querer generalizar, mas vivemos uma crise de conversões no Brasil, já que vemos quase somente adesões”, alerta o pastor e pesquisador Paulo Romeiro, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Longe de ser um exercício de futurologia, o momento em que a maioria dos brasileiros será protestante torna-se cada vez mais próximo. Porém, com sucessivos escândalos e teologias alienantes que contaminam os púlpitos, permanece a dúvida sobre que tipo de crentes haverá então.