17-03-11 - O novo rosto do Cristianismo na China

São sete horas da tarde de quarta-feira. Num apartamento próximo do centro da cidade, jovens, homens e mulheres falam sobre como obter sucesso num país com tantas mudanças.
São todos membros da nova classe privilegiada da China - cultos, cosmopolitas, profissionais de classe média ou alta. E são todos Cristãos.
Li Tian trabalha com uma empresa de grande turismo em Pequim. Como os profissionais urbanos noutras partes do mundo, ele e os seus colegas vivem em apartamentos situados prédios altos. Têm um veículo ou dois. Conhecem a tecnologia, viajam e têm dinheiro.
Mas a pressão para ter sucesso é feroz. Zhou Jie, tradutor espanhol, diz que a competência para se trabalhar em grandes cidades é forte.
Pela sua parte, o consultor empresarial, Liu Yi Zhuo, acrescenta, "o estatuto é tudo. O que se ganha. A grandeza do seu apartamento. O tipo de carro que conduz. É para isso que as pessoas olham."
"O governo faz com que seja possível ganharmos dinheiro e tenhamos uma boa vida. Mas como lidar com essa pressão? O governo não tem respostas ", diz Li Tian.
O Cristianismo preenche lacunas na Sociedade da China
É dentro desta sociedade em transformação que o Cristianismo está a preencher o vazio. O designer gráfico, Zhu Kun, afirma ser uma pessoa diferente hoje.
Kun, 23, faz parte de um número crescente de moradores urbanos que se estão a voltar para o Cristianismo.
Da mesma forma, Liu Yi Zhuo diz, "os últimos dois anos têm sido difíceis para mim. Eu tenho sofrido profissionalmente e pessoalmente. Porém alguém me falou de Jesus e agora eu tenho uma nova perspectiva de vida".
Estas reacções deleitam o pastor Ming Tian Jin, da Igreja Wang Shou, que é pastor de Kun: "Deus chamou-me para lançar uma igreja para alcançar estes jovens com o Evangelho."
Em Beijing, Tian Jin Ming dirige "Wang Shou", uma das maiores igrejas não-oficiais, às vezes chamadas de "subterrâneas". Ele é graduado pela universidade mais prestigiosa da China. Há 18 anos atrás começou uma igreja com dez pessoas. Agora, milhares de pessoas assistem à sua reunião semanal.
"A maioria formou-se na universidade e trabalha na cidade. Nós temos advogados, professores, médicos, comerciantes ", disse Tian Ming
Ele diz que grupos semelhantes se hão formado nas outras grandes cidades, atraindo trabalhadores de escritório. "Eles estão a procurar saber como viver com as mudanças dramáticas na China, e estão a encontrar respostas no Cristianismo."
Reuniões para abençoar vidas
Esta é a nova face do Cristianismo na China.
Estes crentes são parte do que alguns chamam de Terceira Igreja na China.
"Pedro" (nome fictício) é consultor da igreja clandestina; ele trabalhou durante décadas com as igrejas ilegais da China. "Eles são chamados de a Terceira Igreja porque são muito diferentes dos dois tipos de igrejas que existiam anteriormente na China. A igreja registada, inscrita pelo governo e as igrejas não registadas, conhecidas como igrejas, que floresceram no meio rural na década de 70 e 80. Mas após as manifestações de Tiananmen em 1989, estes Cristãos urbanos, ricos e cultos, começaram a levantar igrejas urbanas".
Enquanto o Cristianismo continua a crescer na China rural, em grandes cidades como Beijing, dizem os especialistas, a Igreja está a crescer mais rapidamente.
"Enquanto a igreja rural não consegue causar impacto na sociedade em geral, a Terceira Igreja nas cidades consegue-o, porque é constituída por líderes que têm peso: comerciantes, funcionários públicos, professores, líderes em engenharia e de todas as áreas da vida", disse "Pedro".
Transparência na sociedade
O pastor Jin não registou a sua igreja perante o governo e não faz parte da igreja aprovada pelo estado. Mas, longe de se esconder das autoridades, Jin e outros líderes de congregações semelhantes, querem trabalhar com as autoridades governamentais.
Liu Guan é ancião na Igreja Wang Shou. Ele diz que "agentes de segurança vão à igreja todos os domingos. Mas não há nada a esconder. Queremos ser transparentes para a sociedade".
O governo chinês mantém um controlo rígido sobre a religião. Há ainda tortura, prisão, detenção e maus-tratos dos Cristãos. Mas nos últimos anos, as autoridades iniciaram uma abordagem positiva aos líderes das igrejas domésticas, especialmente em áreas urbanas.
"A igreja está a crescer na China e o Cristianismo está tornar-se numa parte aceite da sociedade. As autoridades sabem disso e parecem dispostas a trabalhar connosco", diz Jin Tian Ming.
A fé orienta estes jovens crentes através das oportunidades e desafios da China de hoje.