A parábola tripla de Lucas 15 (I)

Esta parábola tripla1 de Lucas 15 é um bom exemplo disso mesmo. Estas palavras, tal como todas as Escrituras, foram escritas “para nosso ensino” (Romanos 15:14) e “para aviso nosso” (I Coríntios 10:11), mas elas não foram originalmente dirigidas a nós. Elas foram dirigidas a uma audiência de Judeus numa altura em que Israel ainda era a nação favorecida por Deus. Assim, se pretendemos ser “ensinados” e “avisados” por estas palavras, devemo-nos primeiramente colocar no lugar do destinatário original e determinar o que o nosso Senhor pretendia que eles entendessem das Suas palavras. Só depois poderemos ver de que forma essas lições se aplicam a nós.
Esta é a única forma para verdadeiramente compreender e tirar proveito de passagens não dirigidas a nós. Se em vez disso começarmos a aplicar estas parábolas directamente a nós, como se tivessem sido dirigidas a nós e se referissem a nós, certamente falharemos na sua compreensão, interpretação e aplicação.
Quantas vezes a história da ovelha perdida tem sido usada em mensagens evangelísticas como uma ilustração da salvação nos dias de hoje! Supostamente as noventa e nove ovelhas representam os salvos, “seguros no curral”, e a ovelha perdida os perdidos. Mas o que dizer das palavras do Senhor, sobre o serem muitos os que entram pela “porta larga” e poucos os que entram pela “porta estreita” (Mateus 7:13-14)? E porque deixa o pastor as noventa e nove? E porque o Senhor compara estas ovelhas a “justos que não necessitam de arrependimento”?
O mesmo se passa com a história do filho pródigo. Supostamente esta parábola é uma ilustração da necessidade e do caminho da salvação nesta presente dispensação da Graça de Deus. Sendo assim, porque são ambos os homens referidos como sendo filhos e ambos feitos participantes das riquezas do pai ainda antes de um deles ser salvo? E porque diz o pai ao filho que se considerava justo: “Todas as minhas coisas são tuas”? Tudo isto é deixado por explicar.
E todas estas questões ficarão sem resposta se não nos ocuparmos primeiramente com a verdadeira interpretação das palavras do nosso Senhor, e só depois da aplicação, ou se não tivermos em conta que os destinatários destas palavras eram Judeus, sob a Lei, que eles não tinham as epístolas aos Romanos, Gálatas ou Efésios, que Cristo ainda não tinha morrido e que muitos deles nem o reconheciam como Messias.
Quando o fizermos ficará claro, em primeiro lugar, que esta é uma parábola gradual relativa a Israel. Quase conseguimos imaginar vozes de protesto: “Será que nos vão tirar também esta passagem?!”, ao que respondemos “Não!” Esta passagem, tal como o resto das Escrituras, é para nós, mas extrairemos mais dela se reconhecermos primeiramente a quem estas palavras foram originalmente dirigidas. Fazendo isto, cremos que o leitor verá por si mesmo que não perdeu nada e ganhou muitíssimo.
1 Na verdade, as três parábolas de Lucas 15 formam um todo gradual. O Senhor contou “esta parábola” (versículo 3); as três parábolas referem-se a coisas perdidas; nos versículos 8 e 11, em vez de começar com outra parábola, continua com a sua ilustração.
- Cornelius R. Stam
(Continua)
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A parábola tripla de Lucas 15 (I)
A parábola tripla de Lucas 15 (II)
A parábola tripla de Lucas 15 (III)
A parábola tripla de Lucas 15 (IV)
A parábola tripla de Lucas 15 (V)
A parábola tripla de Lucas 15 (VI)
A parábola tripla de Lucas 15 (VII)
A parábola tripla de Lucas 15 (VIII)
A parábola tripla de Lucas 15 (IX)
A parábola tripla de Lucas 15 (X)
A parábola tripla de Lucas 15 (XI)