Aprendendo com Joás
NOTA: Súmula da mensagem dada online, via ZOOM, na reunião de jovens da igreja em Quinta do Conde realizada sexta-feira, 09 de dezembro de 2022, pelo irmão Alberto Veríssimo (na foto acima).
Fé Superficial – 2 Reis 12:1 a 3, 17 a 21 (2 Cr 24:15) – Joás
Aquilo em que uma pessoa acredita determina, em última análise, a forma como como ela se comporta. Exemplo: Eva creu na mentira do Diabo de que não morreria,...
Quando cremos na verdade, o Senhor trabalha em nosso favor; mas quando cremos numa mentira, o Diabo trabalha contra nós. Exemplo: quando Jesus foi tentado por Satanás, refutou as suas mentiras usando a verdade de Deus e disse: “Está escrito” (Mt 4:1-11).
Joás rei de Judá começou a reinar com sete anos (2 Re 11:1 a 3) tendo Joiada o sumo-sacerdote como seu protetor e mentor. O que chama atenção é o facto desse rei ser o último na linhagem do rei David, pois Jeú havia exterminado todos da casa de Judá (2 Re 10:13 a 15), que tinha a promessa de um trono eterno na pessoa do Messias que viria da sua descendência (2 Samuel 7:8 a 17). Nada, nem ninguém, frustra os planos e propósitos do Senhor.
Mas se esse rei foi tão importante a ponto de restaurar o Templo e o culto a Javéh porque o seu nome não aparece na genealogia de Jesus em Mateus capítulo Um?
É curioso que o nome de Acazias não consta da genealogia oficial de Jesus Cristo em Mateus 1:8, onde está escrito: Asa gerou a Josafá; Josafá, a Jorão; Jorão, a Uzias. Em Mateus, não aparece Acazias, muito menos Atalia, nem Joás, nem Amazias, filho de Joás, devido ao seu parentesco com Acabe e Jezabel, e a filha deles, Atalia. Acazias e seus descendentes não eram apenas da casa de David, mas também da de Onri. Essa “mistura” contaminada impediu a integridade da sucessão.
Acazias, rei de Judá, não era apenas filho da dinastia de David, mas também da dinastia de Onri. A sua mãe era Atalia, filha de Onri, rei de Israel. Na verdade, filha de Acabe e Jezabel. Josafá aparentara-se com Acabe através do casamento do seu filho Jeorão (2Cr 18:1; 21:6). Os 42 anos de Acazias levam-nos ao início do reinado de Onri.
Olhando o texto paralelo em Crónicas, que se concentra em narrar o reino de Judá com mais detalhes, 2Cr 22:3-4 – vemos sua mãe [de Acazias], filha de Onri, que chamava-se Atalia. Ele também andou no caminho da casa de Acabe; porque sua mãe era quem o aconselhava a proceder iniquamente.
No caso de Joás, lemos em 2Cr 24:17-18 que – Depois da morte de Joiada [o sacerdote] … deixaram a casa do Senhor, Deus de seus pais, e serviram aos ídolos; e, por esta culpa, veio grande ira sobre Judá e Jerusalém, (2 Re 12:17 a 22)
E no caso de Amazias: 2Cr 25:14-15 – vindo Amazias da matança dos edomitas, trouxe consigo os deuses dos filhos de Seir, tomou-os por seus deuses, adorou-os e lhes queimou incenso. Ex 20:5, justifica a ira do Senhor onde está escrito que Deus visita a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que o aborrecem.
Três gerações foram omissas no registo, “limpando” assim a linhagem messiânica de modo que pode ser dito que o Messias é filho de David, e de mais ninguém.
Voltando ao nosso personagem em destaque. Por que o rei Joás tinha um coração sem profundidade alguma? O Senhor Jesus contou uma parábola que aponta para o estado do coração de cada um de nós.
Na parábola do semeador, (Mt 13:1-9; 18-23) Jesus explicou que, do ponto de vista espiritual, existem quatro tipos de coração e que cada um deles reage à semente da Palavra de um modo diferente. Quando aqueles que têm o coração endurecido ouvem a Palavra, a semente não vai infiltrar-se e Satanás vem e leva embora a semente. Outros têm um coração sem profundidade, recebem a Palavra, mas não dão espaço para que ela crie raízes, de modo que os brotos crescem, mas não duram muito tempo. É impossível uma planta crescer e dar frutos se não tiver raízes. A pessoa com um coração que dá frutos é honesta, contrita, compreende a Palavra e a recebe pela fé.
Ter uma Fé superficial é como construir uma casa (vida) na areia, na primeira adversidade (vento ou tempestade) se abala e vem abaixo. Essa fé frágil pode ser até ilusória, mostrando boas intenções, mas... Observe os estágios da vida espiritual desse rei:
1º estágio: Obediência (2 Re 12:1 a 3; 2 Cr 24: 1 a 3)
Joás tinha sete anos quando começou a reinar! ( 2 Re 11:1 a 4; 12 e 21). O sumo-sacerdote Joiada foi seu tutor e mentor. Joás era um aluno dedicado e obediente. Até aceitou que o sumo-sacerdote escolhesse esposas para o rei (2 Cr 24:3). Isto era importante para reconstruir a família de David, pois a linhagem davídica havia sido praticamente destruída , (2 Cr 21:4 por Jeorão; 2 Re 10:12-14 por Jeú; 2 Cr 22:1 invasores Árabes).
O rei e o sumo-sacerdote conduziram o povo a uma restauração do templo. Porém o rei Joás tinha uma fé superficial. Ele obedecia a Deus somente para agradar ao sacerdote Joiada. Era um excelente seguidor, mas não um bom líder. Quando o sacerdote morreu, Joás tomou outro rumo e desobedeceu ao Senhor. Atenção! Precisamos fazer distinção entre “conhecimento” e “convicção”.
2º estágio: Conflitos e crises (2 Re 12:4 a 16; 2 Cr 24: 4 a 14).
É normal os jovens desejarem liberdade para tomar as próprias decisões, mas na vida de Joás esse desejo era maior devido a autoridade que possuía como rei.
Todos do povo sabiam que o sumo-sacerdote estava por detrás do poder do rei e isso dava uma certa segurança ao jovem rei. Para assumir o poder, de facto, o rei decidiu reformar o templo como centro da sua campanha pela sua autonomia e independência.
Mas por algum motivo o sumo-sacerdote não se mostrou empolgado com o projeto. Já com trinta anos o rei quis agir por conta própria.
Anunciou que o trono pagaria a reforma e o povo se animou sabendo que o rei estaria supervisionando o projeto e leigos estariam na obra.
Apesar de a casa de Deus, nos dias de hoje (neste tempo dispensacional da graça), não ser mais de natureza material, mas sim, espiritual, o edifício em si ainda é um símbolo extremamente real da natureza espiritual. Quando a igreja do Senhor, em qualquer lugar é descuidada com seu local de reunião, trata-se de um sinal e de uma prova de que sua vida encontra-se fragilizada. Ou mesmo no trato com a Bíblia, quando é esquecida e deixada no canto.
3º estágio: Apostasia, afastamento, esfriamento ( 2 Re 12:17-18; 2 Cr 24:15-22)
Quando o sumo-sacerdote saiu de cena, o rei Joás mostrou o seu verdadeiro caráter e abandonou a sua fé. A sua apostasia não foi culpa de Joiada, pois o sumo-sacerdote havia cumprido fielmente a tarefa de ensinar as Escrituras ao rei.
O problema era a fé superficial de Joás e o seu desejo de agradar aos líderes da terra, “os príncipes de Judá” (2 cr 24:17,18). Um pecado de ingratidão por tudo o que o sumo-sacerdote havia feito por ele. A apostasia de Joás foi um ato propositado de rebelião contra o Senhor Deus.
O rei Joás tinha aprendido a verdade da Palavra de Deus, caminhado com o sumo-sacerdote enquanto aprendia a governar o povo,... No entanto, o rei jamais havia aceitado, de facto, a verdade de Deus e permitido que ela se arraigasse em seu coração.
Faltava profundidade ao coração do rei, e a sua obediência à Lei de Deus devia-se somente à supervisão do seu mentor. Chegou até a tomar dinheiro do templo que havia reformado para dar a um rei pagão como resgate!
Joás serve de advertência para nós, no nosso tempo. Não basta simplesmente conhecer a verdade de Deus; devemos obedecer-lhe “de coração” (Ef 6:6). A Palavra e a vontade de Deus devem ser infundidas em nós – recebidas no coração (Sl 119:9-11); de outro modo, jamais desenvolveremos um firme caráter cristão.
Enquanto o dever e a disciplina não se tornarem um prazer, seremos apenas servos relutantes que obedecem a Deus por obrigação, não porque desejam fazê-lo.
Aqui uma advertência para nós. Vivemos uma vida superficial para agradar à família, aos pais e amigos sem uma fé convicta. Na falta desses ou mesmo quando estamos sozinhos e longe dos seus olhos, entregamos o ‘tesouro’ para o inimigo que nos pressiona e constrange?
O rei Joás teve todo incentivo necessário para tornar-se num homem piedoso, mas não aproveitou as suas oportunidades. Não permitiu que a verdade penetrasse no seu coração; o Senhor até enviou profetas para adverti-lo, ele recusou-se a ouvir, chegou até a tramar para matar o filho do seu mentor que havia salvado a sua vida quando criança (2 Cr 24:15).
4º estágio: Sofrimento (2 Re 12:19-21; 2 Cr 24: 23-37)
O menino-rei, que havia tido um começo tão promissor, não teve um final feliz, pois renunciou os caminhos do Senhor. Foi golpeado pelos seus e perdeu a vida.
Por Alberto Veríssimo