Excerto do início do livro de Billy Graham, "A Jornada"

A jornada começa
 
      Bem-vindo à jornada
 
      Ó SENHOR, (...) se assim desejares, dá êxito à missão de que fui incumbido. Génesis 24:42  
 
      A vida é uma jornada.
     Como qualquer outra jornada, ela tem um ponto de partida. Não temos escolha quanto a isso, claro, não mais do que temos em relação a nossos pais, à cor dos nossos olhos ou à nossa raça ou sexo. Mas no instante em que nascemos, iniciámos uma jornada — a jornada da vida.  
 
      E, como qualquer outra jornada, ela tem um fim. Ela pode surgir repentina e inesperadamente, ou após anos de decadência física — mas irá chegar e, como no caso do seu nascimento, não tem escolha quanto a isso. Pode ignorar ou rir, mas isso não irá mudar a sua inevitabilidade. Um sábio poeta certa vez disse que a morte chega igualmente para todos nós, e torna-nos  iguais quando chega.  
 
      Mas, como qualquer outra jornada, ela também tem um ponto intermediário — e essa é nossa verdadeira jornada: aqueles anos entre o nosso nascimento e a nossa morte. Para alguns é tragicamente breve. Para a maioria de nós, porém, a jornada da nossa vida irá durar muitos anos, passando sucessivamente da infância para a adolescência e a juventude, depois pela meia-idade e a velhice.  
 
      Como o nascimento e a morte, essa parte da jornada também é inevitável. Por mais que tentemos, não podemos fazer o relógio retroceder ou interromper a marcha inexorável do tempo. Há anos atrás eu nunca teria sonhado que chegaria a mais de 80 anos de idade, mas a vida costuma surpreender-nos, e nenhum de nós pode prever quão longa será a nossa jornada. A minha esposa Ruth e eu falamos sobre isso frequentemente, sabendo que um dia a nossa jornada irá terminar e que embarcaremos numa nova — que durará para sempre.  
 
 
  Apanhado no presente
 
      A vida é uma jornada — embora algumas vezes nos esqueçamos disso. A vida torna-se tão agitada e ficamos tão ocupados com as nossas preocupações imediatas que não paramos e observamos o quadro geral.  
 
      Para muitas pessoas a vida é uma luta constante pela sobrevivência. Outras têm tudo o que poderiam querer e ainda assim continuam insatisfeitas e vazias. Talvez veja a sua vida como uma sequência de acontecimentos não correlacionados — alguns bons, alguns maus — mantidos juntos como contas num colar. Ou talvez  se sinta apanhado como uma folha numa corrente, arremessado de um lado para o outro ao sabor de circunstâncias que estão além do nosso controlo.  
 
      Ou, como muitas pessoas, talvez nunca tenha parado para pensar sobre a estrada que está a seguir — nunca se tenha perguntado de onde veio, por que está aqui ou para onde está a ir.
 
      Mas Deus não quer que a nossa trajectória de vida seja assim. Ele, na verdade, quer que tenhamos uma vida cheia de satisfação e propósito, cujos acontecimentos mais banais sejam também parte do Seu plano. Ele quer guiar-nos à medida que tomamos decisões e dar-nos esperança para o futuro. Acima de tudo, Deus quer-se juntar a nós na nossa jornada.  
 
 
  Que tipo de jornada?
 
      A vida é uma jornada — mas para si de que tipo ela tem sido até agora?
      Talvez a sua jornada tenha sido marcada por desapontamento, tristeza e angústia. Anseia por algo diferente, algo melhor na sua vida — mas não tem conseguido felicidade e paz duradouras.  
 
      Ou talvez tenha decidido há muitos anos passar a vida em busca de excitação, prazer, fama ou sucesso. Durante algum tempo, talvez isso o tenha satisfeito — mas no final (se for honesto) descobriu que isso apenas o levou ao tédio, à desilusão, à vacuidade ou mesmo à autodestruição.  
 
      Ou talvez se tenha visto oprimido por problemas esmagadores além do seu controlo: doença, pressões financeiras, relacionamentos rompidos, medo, culpa, solidão, desespero. Para si a vida tornou-se um fardo insuportável e não há solução à vista. Ou talvez seja um daqueles cujas jornadas foram relativamente sem problemas, mas ainda assim sem sentido e vazias, sem nenhum verdadeiro objectivo ou rumo. Talvez até acredite em Deus e se considere um verdadeiro Cristão, e ainda assim está desanimado e confuso, sufocado por circunstâncias que não compreende e das quais não sabe como escapar.
 
      Lamentavelmente, todos os anos milhares de pessoas decidem que já não suportam a vida e decidem acabar com ela. Talvez se tenha sentido tentado a acompanhá-las.
 
      As palavras de Jó no Velho Testamento são tão verdadeiras hoje quanto o eram no momento em que foram escritas, há milhares de anos atrás: “O homem nasce para as dificuldades tão certamente como as fagulhas voam para cima”(Jó 5:7). Jó sabia por experiência própria, assim como nós.  
 
 
 A vida pode ser diferente?
     Mas a nossa jornada precisa continuar a ser assim? Estamos fadados a arrastar-nos pela estrada da vida de um buraco ou desvio para outro?
 
      No fundo todos sentimos que a vida não deveria ser assim, e ansiamos por algo melhor. Suspeitamos que deve haver um outro caminho, um trilho diferente daquele que temos seguido. Mas por que tão poucas pessoas parecem encontrá-lo? Porque é que operdemos?  
 
      A vida pode ser diferente?
 
      A resposta a essa última pergunta é Sim! Não importa quem é ou como a sua vida tem sido até agora, o restante da sua jornada pela vida pode ser diferente. Com a ajuda de Deus  pode recomeçar.  
     Com Deus, pode enfrentar os seus problemas e começar a lidar com eles, e pode evitar as ciladas e os desvios da vida. Mais do que isso: com a ajuda de Deus pode causar impacto no nosso mundo. Eu experimentei isso na minha própria vida, e ao longo dos anos encontrei muitos outros que igualmente descobriram isso. Também pode acontecer consigo.  
 
      A vida é uma jornada, mas como é que ela se pode transformar numa boa jornada, uma jornada que não seja apenas satisfatória e desafiadora, mas que atenda aos propósitos para os quais fomos criados? Responder a essa pergunta é o objectivo deste livro, e nas páginas seguintes eu convido-o a juntar-se a mim na descoberta dos planos de Deus para esta excitante jornada chamada vida.
 
      Só fará essa jornada uma vez. Por que não tirar o melhor dela?  
 
 
 A determinação divina
     Mas antes de começarmos precisamos compreender três grandes verdades sobre a nossa jornada pela vida. Elas são como o pano de fundo ou o cenário de uma peça, preparando o palco para tudo o que se segue.
 
      A primeira verdade é muito simples — mas também muito profunda: Deus colocou-o na jornada da vida.
 
      Não está aqui por acaso ou por acidente; está aqui porque Deus o colocou aqui. Muito antes que o mundo fosse criado, Deus sabia tudo sobre si, e planeou dar-lhe vida. Por toda a eternidade tem sido parte do Seu plano. Não, não tinha nenhuma escolha sobre se nasceria ou não — mas Deus teve uma escolha quanto a isso, e escolheu dar-lhe vida. Ele é o criador de tudo — incluindo a si.
 
      Esta jornada é sua — mas Deus deu-a a si. Nunca se esqueça: Deus colocou-o na jornada.
 
      Ao longo de toda a Bíblia essa verdade fez diferença na vida das pessoas — e também fará na sua. Deus disse a Jeremias: “Antes de formar-te no ventre, eu te escolhi” (Jeremias 1:5), e Jeremias aceitou a chamada de Deus para ser Seu profeta. O jovem pastor David compreendeu: “Todos os teus dias para mim foram escritos no Teu livro antes de qualquer um deles existir” (Salmo 139:16). Quando
David tornou-se rei, levou o povo judeu ao ponto mais alto que já tinha alcançado.
     Não estamos aqui por acaso ou acidente; Deus colocou-nos nesta jornada chamada vida. Nós viemos de Deus, e a nossa maior satisfação será entregarmo-nos novamente a Ele, aprendendo na Sua companhia todos os dias até o retorno final.  
 
 
 Não estamos sós
     Porém, precisamos de compreender uma segunda verdade: Deus quer junta-se a nós nessa jornada.
 
      Pense um pouco nisto. Deus poderia ter-nos criado e depois abandonado e esquecido tudo a nosso respeito. De facto, muitas pessoas acreditam que Deus deveria ter feito exactamente isso, ou pelo menos agem como se acreditassem nisso. Elas supõem que Deus não está interessado nelas — portanto, porque é que elas deveriam interessar-se por Deus? Para elas Deus é distante, afastado, desinteressado dos problemas e das decisões que elas enfrentam diariamente.
 
      Mas isso não é verdade! Deus não apenas nos colocou nesta jornada como quer juntar-se a nós, se permitirmos. Não precisamos de estar sós, pois Ele está connosco! O salmista perguntou: “Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da Tua face? Se subir ao céu, Tu aí estás; se fizer no Sheol a minha cama, eis que Tu ali estás também” (Salmo 139:7-8).
 
      Se compreendermos essa verdade, ela dar-nos-á esperança — esperança de que a nossa vida pode ser diferente, porque Deus preocupa-Se connosco e quer ajudar-nos. Não importa o que aconteça, Deus nunca nos abandonará se confiarmos n'Ele. Moisés declarou:
 
      “O próprio Senhor irá à tua frente e estará contigo; Ele nunca te deixará, nunca te abandonará”  (Deuteronómio 31:8). Jesus prometeu: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mateus 28:20). Ao longo dos séculos, milhões descobriram a verdade dessas palavras, e esta descoberta também pode ser sua.  
 
 
 Um novo trilho
 
      Há, porém uma verdade final que precisamos de compreender sobre a jornada da vida: sim, Deus colocou-nos na nossa jornada e quer juntar-se a nós no caminho... Porém, mais do que isso, Deus chama-nos para uma nova jornada.
 
      Dizendo de outra forma, Deus convoca-nos a tomar um novo trilho — o trilho da fé e da confiança n'Ele.
 
      Imagine que um dia está a passear no bosque, planeando ir a algum lugar onde nunca esteve, e após uma hora ou duas chega a uma encruzilhada no caminho. Agora, em vez de apenas um trilho a seguir, tem dois. Mas qual é o trilho certo? Obviamente, ambos levam a algum lugar — mas aonde? Qual deles levará ao seu destino? Examinando mais atentamente, percebe que um dos trilhos parece muito mais largo e fácil de percorrer e que aparentemente é utilizado por mais pessoas. Fica tentado a tomá-lo; afinal, se a maioria das pessoas viaja por ali (raciocina ), deve ser o caminho certo.
 
      Mas depois imagine que outra pessoa se aproxima. O que faria? O mais lógico seria perguntar-lhe se ela saberia qual p trilho que deveria seguir para chegar ao seu destino. Sem hesitar, ela estimula-o a tomar o segundo trilho, mesmo sendo mais estreito e menos percorrido. Apenas esse, diz, levá-lo-á ao seu destino. Tem a certeza? — pergunta em dúvida. Certamente , responde ela, porque eu conheço-o. Na verdade, eu mesmo vou nesse sentido, e seguirei consigo para que não se perca.
 
      Que trilho  escolheria? Provavelmente nem sequer hesitaria; escolheria o segundo. Ainda estaria numa jornada, mas agora num trilho diferente — o trilho certo.
 
      Isso é o que Deus quer que façamos: a escolha de um novo trilho — um trilho diferente daquele em que estamos. Esse é o trilho que Deus criou para nós, assegurando-nos de que é o único que leva à verdadeira vida. A nossa jornada continuará, mas agora estamos no trilho certo, mesmo que a maioria das pessoas não siga por ele. Jesus disse assim:
 
      “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mateus 7:13-14).  
 
 
  Por que seguir por ele?
 
      Deus convida-nos a mudar de caminho e a fazer o restante da nossa jornada na Sua companhia. Na verdade, não apenas nos convida, mas insiste connosco! E porque deveríamos aceitar? Porque não permanecermos na estrada que já conhecemos, mesmo que ainda não tenhamos encontrado a paz e a segurança que buscamos? Porque correr o risco de seguir um novo trilho?
 
      Deixe-me dar-lhe três razões pelas quais vale a pena mudar para o trilho de Deus.
 
      Primeiramente, o antigo trilho nunca irá cumprir o que promete. Olhe ao redor e interrogue-se  sobre quantas pessoas são verdadeiramente felizes. Superficialmente algumas parecem satisfeitas e contentes — mas será que realmente são? O que acontece com elas na estrada ou quando a vida se volta contra elas?
 
       O antigo trilho promete paz e segurança — mas termina em ansiedade, medo, angústia, tédio e tristeza. O antigo trilho promete liberdade — mas escraviza-nos com lascívia, cobiça, raiva e amargura.
 
      Como o homem rico egoísta numa das parábolas de Jesus, o antigo trilho diz: "descansa, come, bebe e folga.” Mas Deus diz: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?” (Lucas 12:19-20).
Aquele homem escolheu o trilho errado — e ele destruiu-o. O antigo trilho promete-nos tudo, mas as suas promessas são vãs e deixam-nos sem nada. Por que permanecer nele?
 
 Promessas cumpridas
 
      Mas há uma segunda razão para escolher o trilho de Deus para o resto da sua jornada: nele, as promessas de Deus são sempre cumpridas.
 
      Talvez tenha conhecido pessoas que estavam naquela estrada que classificamos de “trilho de Deus” (talvez até seja a sua estrada.) Elas não eram perfeitas, talvez até mesmo tivessem algumas características das quais não gostasse. Mas, apesar disso, identificou algo diferente nelas, sentiu que estava faltando algo na sua própria vida. Quando as coisas davam errado, elas tinham uma paz interior que não conseguia explicar. Quando os outros estavam sofrendo ou carentes, elas reagiam com generosidade e compaixão. Porquê? Porque elas tinham descoberto o segredo de seguir o trilho da vida com Deus.
 
      Não me entenda mal; não estou a dizer que a nossa jornada será sempre fácil e sem problemas. Aqueles que dizem que Deus nos promete prosperidade e saúde sempre esqueceram-se do alerta de Jesus: “Neste mundo, tereis aflições” (João 16:33). Os Cristãos não estão livres do sofrimento e da dor. Mas no meio de tudo isso, experimentam “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7). 
 
 O caminho para casa
 
      Uma última razão para escolher o caminho de Deus é de suprema importância: esse caminho leva-nos para casa.
 
      Sempre que estou a viajar anseio pelo momento em que voltarei para casa. Mesmo estando muito atarefado e preocupado, no fundo da minha mente há sempre um pensamento: “Logo voltarei para casa!” O lar é um local de paz, segurança e descanso; é ao lar que eu pertenço. Quando eu e a minha equipa passámos seis meses na Austrália, nenhum de nossos familiares foi connosco. Com o passar do tempo ficámos com cada vez mais saudades de casa, e passámos a falar mais sobre o lar. Sabíamos que estávamos a servir ao Senhor e sabíamos que missionários e militares frequentemente ficavam muito tempo longe de casa.
 
      Mas isso não diminuiu o nosso profundo desejo pelo lar.
 
      Quão maior deve ser o nosso desejo pelo nosso lar eterno! Não devemos viver apenas umas décadas na Terra; nós estamos destinados à eternidade. A Bíblia diz que este mundo não é o nosso lar final; nós somos “estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11:13). O nosso verdadeiro lar é o céu — e é a ele que o trilho de Deus leva.  
 
 
 Qual será o caminho?
 
      Nós estamos numa jornada; estamos nela desde o dia em que nascemos, e ela não terminará até que o nosso tempo na Terra acabe.
 
      Mas qual será o seu tipo de jornada?
 
      A resposta a essa pergunta está nas suas mãos. Não pode mudar o passado, mas com a ajuda de Deus pode mudar o futuro. Ele sabe tudo sobre si: as suas forças e fraquezas, os seus fracassos e as suas angústias. Mas não quer que seja uma presa do passado. Em vez disso, quer libertá-lo dos seus antigos caminhos e colocar os seus pés num novo trilho — o trilho d'Ele.
 
      Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10:10). Pode começar uma nova jornada de vida entregando a sua vida a Cristo e aprendendo a andar com Ele todos os dias. Este livro é sobre isto, e é isto que eu o convido a fazer.  
 
      Que a jornada comece!
Billy Graham
 
 


