Atos Dispensacionalmente Considerados - Apêndice (2)

EVIDÊNCIAS DAS EPÍSTOLAS PASTORAIS
Primeiro, devemos considerar os factos históricos das Epístolas Pastorais. A grande maioria destas não poderia caber em qualquer parte da vida do apóstolo antes ou durante a sua primeira prisão em Roma.
Em Tit. 1:5 ele explica por que ele “deix[ou]” Tito em Creta. Isto não poderia ter ocorrido na sua primeira viagem a Roma, pois então ele só viu Creta do navio em Bons Portos (Atos 27:7-13) e ele tinha com ele apenas Lucas e Aristarco (Atos 27:2). Mas de Tit. 1:5 nós seguramente concluímos que então Paulo visitou Creta com Tito e o deixou ali para completar a organização das igrejas estabelecidas.
Com Tit. 3:12,13, aprendemos ainda mais, a saber, que “Zenas, doutor da lei e Apolo” estavam com Tito nessa altura, evidentemente no decurso de uma “viagem”, e que Paulo lhes deveria enviar Artemas ou Tíquico. Tudo isto parece indicar que uma obra de considerável extensão tinha sido lançada em Creta. Certamente Zenas, Apolo e Tito não tinham sido “deixados” em Creta antes da chegada original de Paulo a Roma.
De Tit. 3:12 também aprendemos que quando ele escreveu esta carta ele havia “deliberado” passar o inverno em Nicópolis. Isso indica que ele estaria livre nesse período ou razoavelmente seguro da sua liberdade.
Também há evidências de que, no momento em que o apóstolo havia escrito esta carta a Tito, ele passara tempo suficiente em Creta para aprender as suas características por experiência pessoal. Citando “um seu próprio profeta”, a saber, que “os cretenses são sempre mentirosos”, ele acrescenta: “Este testemunho é verdadeiro” (Tito 1:12,13) e indica que ele havia deixado Tito ali para corrigir tais abusos. (Tito 1:5,10,11,13). Tal conhecimento pessoal dos cretenses não poderia ter sido obtido enquanto o navio para Roma esteve ancorado em Bons Portos.
A seguir, voltemo-nos para a primeira Epístola a Timóteo, onde, nos primeiros versículos, encontramos Paulo a rogar a Timóteo que permanecesse em Éfeso por causa do falso ensino que estava ali a ganhar terreno. Ora Paulo rogou-lhe que ficasse ali enquanto ele mesmo ia para a Macedónia (1 Tim. 1:3). Quando Paulo se dirigiu aos anciãos Efésios na sua última viagem a Jerusalém e, posteriormente, a Roma, conforme registado em Atos, essa doutrina infundada ainda estava subdesenvolvida entre eles (Atos 20:27-32). Ele também não estava ligado à Macedónia. Ele deve, portanto, ter sido libertado e ter visitado novamente Éfeso - e a Macedónia. De facto, parece de ambas as Epístolas a Timóteo que Timóteo já havia sido sujeito a não pouca pressão dos hereges em Éfeso e precisava de considerável exortação para continuar na batalha e permanecer firme.
Em 2 Tim. 4:6-9, escrevendo na véspera do seu martírio, Paulo intima Timóteo, então em Éfeso, a apressar-se a vir ter com ele a Roma. Mas perto do fim dos dois anos de Atos 28:30, Timóteo estava em Roma e escreveu com Paulo aos Colossenses (1:1), aos Filipenses (1:1) e a Filémon (ver. 1).
Mais uma vez em 2 Tim. 4:13-20 há evidência de duas prisões. O apóstolo refere-se ali a incidentes que eram claramente recentes, enquanto, se ele fosse executado após sua primeira prisão em Roma, ele teria estado preso durante quatro anos: dois em Cesareia e dois em Roma, e esses incidentes teriam ocorrido quatro anos antes.
Finalmente, há diferenças tais, no “estilo, linguagem e ideias” quando chegamos às Epístolas Pastorais, que alguns têm negado a sua autoria Paulina. Nestas cartas pastorais, diz David Smith, existem cerca de 295 casos de linguagem e terminologia peculiares a estas epístolas (Life and Letters of Paul [Vida e Cartas de Paulo], p. 582). Acreditamos que isto pode ser mais bem explicado pelos anos de dificuldades que intervieram e pelo humor e circunstâncias alteradas. Diz Smith:
“Aceitando como genuínas as Epístolas Pastorais, somos conduzidos, em parte pelo estilo delas, em parte pela dificuldade de as ajustar a qualquer período anterior da vida de Paulo, em parte por traços de um estágio posterior de desenvolvimento, tanto de verdade quanto de erro, a atribuí-las a uma data posterior aos dois anos de prisão de Atos 28:30.”
Atos dispensacionalmente Considerados
Cornelius R. Stam



