Atos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XXXVIII – Atos 20:13-38 (5)

O ESPÍRITO DE PAULO E O ESPÍRITO SANTO
Uma questão importante a ser levada em consideração aqui é quanto o Espírito Santo e quanto o próprio espírito de Paulo estiveram envolvidos neste episódio.
A palavra espírito (Gr. Pneuma) é usada cinco vezes no registo, e acreditamos que em cada caso está claro se o espírito de Paulo ou o Espírito Santo é referido.
Em Atos 19:21 lemos que “Paulo propôs, [no] espírito, ir a Jerusalém”. Ora, esta frase “[no] espírito” é familiarmente usada para o próprio espírito do homem[1] e se não houvesse uma indicação para o provar, ninguém provavelmente, alguma vez teria questionado a interpretação natural de que Paulo resolveu no seu espírito ir a Jerusalém.
Neste contexto, não se deve esquecer que a passagem afirma distintamente que foi Paulo quem propôs ir a Jerusalém. Se Deus tivesse proposto a sua ida, teria sido dito que o Espírito Santo o guiou ou instruiu a ir.
Isto, é claro, não nega que o termo "[no] espírito" seja usado para mostrar que foi a parte mais elevada do ser de Paulo, a parte que mantinha comunhão com Deus, que o motivou a partir.[2]
Em Atos 20:22, o apóstolo diz de si mesmo: “E agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém”, isto é, ele sentiu-se obrigado a ir. Que o seu próprio espírito é referido aqui, é evidente a partir do facto de que ele prossegue dizendo que “o Espírito Santo [Gr.: o Espírito, o Santo]” revela em cada cidade que prisões e tribulações o esperam (Ver. 23).
Uma considerável maioria das traduções traduz a palavra espírito com um “e” minúsculo em Atos 19:21 e 20:22 conforme o significado natural do original. Que isso é correto é ainda confirmado pelo facto de, inquestionavelmente, o Espírito Santo ser mencionado em todas as três advertências e exortações para ele não ir a Jerusalém. Se as duas passagens acima, então, também se referissem ao Espírito Santo, seríamos confrontados com a situação contraditória do Espírito Santo estar simultaneamente a influenciá-lo para ir e não ir.
Acabámos de ver que o próprio Paulo declarou que “o Espírito Santo” o advertira das consequências de ele ir a Jerusalém neste momento. As outras duas passagens são Atos 21:4, onde os discípulos de Tiro “pelo Espírito diziam a Paulo, que não subisse a Jerusalém” e Atos 21:10,11, onde "Ágabo ... tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os Judeus em Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos Gentios”.
Não pode haver dúvida de que os outros companheiros de Lucas e Paulo, assim como “os que eram daquele lugar”, viam a profecia de Ágabo como uma advertência de Deus sobre o que aconteceria a Paulo se ele persistisse no seu propósito de ir a Jerusalém, pois todos imploraram-lhe - com lágrimas – “que não subisse a Jerusalém”, e foi só quando não puderam “convencê-lo” que eles disseram: “Faça-se vontade do Senhor [isto é, a Sua vontade permissiva]” (Vers 12-14).
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[1] Veja Atos 18:5,25; I Cor. 5:3; 2 Cor. 2:13. Todas estas passagens, como 19:21, contêm o artigo definido no original.
[2] Mas até mesmo o espírito do crente pode errar, como está implícito em 1 Tes. 5:23.
Atos dispensacionalmente Considerados
Cornelius R. Stam



