Atos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XXXVIII – Atos 20:13-38 (3)

OS ARGUMENTOS PARA PAULO IR A JERUSALÉM NESTA ALTURA
Os principais são os seguintes:
- Os planos de Paulo não foram feitos “segundo a carne” (2 Cor.1:15-17).
- Posteriormente, diante do Sinédrio, e ainda mais tarde, numa carta a Timóteo, ele declarou que desde a sua juventude serviu a Deus com uma consciência pura (Atos 23:1; 2 Timóteo 1:3).
- Ele declarou a sua determinação de continuar a viagem a Jerusalém para que pudesse terminar a sua carreira e o seu ministério “com alegria” (Atos 20:24).
- Quando os seus amigos não conseguiram dissuadi-lo do seu propósito, eles disseram: “Faça-se a vontade do Senhor” (Atos 21:14).
- Depois que Paulo chegou a Jerusalém, o Senhor, em vez de repreendê-lo, encorajou-o dizendo: “Paulo, tem ânimo: porque como de Mim, testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” (Atos 23:11).
- Pouco antes da sua morte, Paulo escreveu: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Timóteo 4:7), que, segundo se afirma, ele não poderia ter dito se ele estivesse fora da vontade do Senhor em fazer esta viagem a Jerusalém.
Porém, estes argumentos não são tão conclusivos quanto pareçam à primeira vista.
Embora concordemos que não foi a carne que levou o apóstolo ir a Jerusalém neste momento, deve ser observado que em 2 Coríntios. 1:15-17 o apóstolo não se refere a todos os seus planos, ou propósitos, muito menos ao seu propósito de visitar Jerusalém pela última vez. Nesta passagem ele refere-se ao seu antigo plano de visitar os Coríntios (Ver. 15). É com respeito à mudança neste plano que ele protesta: “E, deliberando isso, usei, porventura, de leviandade? Ou o que delibero, o delibero segundo a carne ...?” (Ver. 17).
Quanto às afirmações do apóstolo que desde a sua juventude ele tinha vivido diante de Deus “com toda a boa consciência”, está bem claro nos seus próprios escritos que ele estava longe de ser perfeito e que essas afirmações não se referem a todos os detalhes da sua vida, mas sim ao rumo que ele adotou, primeiro opondo-se a Cristo, depois voltando-se para Ele e servindo-O. Além disso, o facto de ele mesmo perseguir Cristo com uma consciência pura (Atos 26:9) prova que é possível errar com uma consciência limpa, embora distorcida.
Os números 3 e 4 acima serão tratados mais adiante, mas faremos uma pausa aqui para tocar brevemente nos números 5 e 6.
Ninguém negaria que os motivos de Paulo para ir a Jerusalém naquela altura eram os mais elevados; que ele foi com um coração cheio de amor a Cristo e aos seus parentes; arriscando a sua própria vida ao ir. Será estranho, então, que Deus o encoraje depois da sua nobre posição perante a multidão irada de Jerusalém e diante do Sinédrio? Não esperaríamos que Deus fizesse isso? Isto não é prova de que Paulo estava na diretriz da vontade de Deus em ir a Jerusalém neste momento.
Nem sua declaração em 2 Tim. 4:7 prova isso. Tome a controvérsia acalorada do apóstolo com Barnabé, o seu insulto ao sumo sacerdote (do qual ele se desculpou) e acrescente quaisquer outras falhas que possa encontrar no registo; depois compare-os com o resto do registo e veja se ele não estava mais do que justificado ao declarar: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé". Quem de nós fez metade tão bem?
Atos dispensacionalmente Considerados
Cornelius R. Stam



