Atos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XXXVI – Atos 20:1-5 (8)

CARTAS PARA A GALÁCIA E ROMA
Embora não possamos, provavelmente, estar inteiramente certos quanto à data da epístola aos Gálatas, ou do lugar de onde foi escrita, parece haver alguns indícios de que foi por esta altura que Paulo recebeu notícias das igrejas da Galácia, que o encheram de espanto e indignação. Os Judaizantes tinham estado de novo ativos e tinham sido bem sucedidos não apenas em trazer os crentes Gentios para debaixo da escravidão da lei, como, à semelhança do que aconteceu no caso dos Coríntios, em minimizar o apostolado e a mensagem de Paulo. Como resultado de “não obedecer[em] à verdade” (Gálatas 3:1; 5:7), eles perderam “a bem-aventurança” que uma vez conheceram (4:15), de modo que se “mord[iam] e devora[vam]" uns aos outros (5:15).
A situação na Galácia deteriorou-se tão rapidamente que Paulo escreveu-lhes logo uma carta com as suas próprias mãos, defendendo o seu apostolado dado por Deus e reenfatizando a importância da mensagem especial da graça que o glorificado Senhor lhe havia confiado. Há um maior tom de extrema urgência nesta carta aos Gálatas do que em qualquer outra das suas epístolas.
Uma das indicações de que a Epístola aos Gálatas foi escrita mais ou menos nesta altura é a sua semelhança interna com a epístola aos Romanos, tanto quanto à doutrina como quanto à ênfase.
Que a epístola aos Romanos foi escrita nesta altura é quase certo, pois foi evidentemente enviada de Corinto, onde Erasto era o procurador da cidade (Rom. 16:23 cf. 2 Tim. 4:20) e Gaio hospedeiro de Paulo (Rom. 16:23 cf. I Cor. 1:14). Foi escrita depois de Áquila e Priscila retornarem a Roma (Rom. 16:3) e depois que Paulo “propôs, em espírito” ir a Jerusalém e a Roma (Atos 19:21), quando ele estava prestes a viajar para Jerusalém com a “coleta para os pobres dentre os santos” ali (Rom. 15:25,26).
Os materiais de escrita estariam, sem dúvida, disponíveis na casa de Gaio, e Tércio, um amanuense,[1] estava pronto para escrever a carta que ele ditasse (Rom. 16:22,23). Talvez também, Febe, uma diaconisa bem conhecida, ou serva, da igreja em Cencreia (o porto oriental de Corinto) estivesse prestes a partir para Roma em negócios nesta altura. Foi sem dúvida ela quem levou a carta ou pelo menos acompanhou quem o fez. Evidentemente, Febe era uma mulher de certa categoria, e fiel como Cristã, pois o apóstolo elogia-a como tendo "hospedado [Lit., alguém que se levanta antes, uma protetora] a muitos", incluindo ele próprio, e pede aos crentes em Roma que a recebam e a ajudem nos seus negócios de qualquer forma que puderem (Rom. 16:1,2).
As mulheres piedosas tiveram uma grande parte, embora subordinada, no ministério de Paulo, quase sempre onde quer que ele fosse. A primeira convertida na Europa, em Filipos, foi uma mulher (Atos 16:14) e as mulheres da igreja em Filipos tinham trabalhado com Paulo no Evangelho (Filipenses 4:3) e provavelmente ainda o estavam a fazer na altura em que ele escreveu aos Filipenses da prisão em Roma (Filipenses 1:3-5). Em Tessalónica, os crentes incluíam "não poucas mulheres principais [ou, líderes]" (Atos 17:4). Em Bereia, também, aqueles que criam incluíam "não poucas" "mulheres Gregas da classe nobre" (Atos 17:12). Em Atenas, um dos dois únicos convertidos citados era uma mulher (Atos 17:34). Em Corinto e Cencreia havia Priscila (Atos 18:2,26) e Febe (Rom. 16:1) e na sua Epístola aos Romanos o apóstolo nomeia várias outras (Rom. 16).
É digno de nota que, consideravelmente antes de Paulo chegar a Roma, já havia sido estabelecida uma igreja cuja fé era anunciada “em todo o mundo" (Rom. 1:8). Aqueles que supõem que esses crentes eram os discípulos dos santos da circuncisão que haviam viajado para lá da Judeia, deveriam notar que era o Evangelho de Paulo, e não "o Evangelho do reino" ou "o Evangelho da circuncisão", que já havia começado a chegar a terras distantes e em breve chegaria a todo o mundo conhecido (Veja Rom. 16:25,26; Col. 1:6, 23; 2 Tim. 4:16,17; Tito 2:11).
Sem dúvida, o apóstolo, em suas extensas jornadas, ganhou muitos ajudantes que, por motivos comerciais ou outros, viajaram para a metrópole e foram usados para plantar o Evangelho da graça de Deus ali. De facto, as linhas finais da sua Epístola aos Romanos indicam que ele já conhecia um número considerável de fiéis ali.
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[1] Uma comparação de Rom. 16:22 com 1 Cor. 16:21, 2 Tess. 3:17 e até mesmo Gal. 6:11, indica que não era incomum para Paulo ditar as suas cartas para um amanuense as escrever; de facto, era incomum que ele fizesse de outro modo.
Atos dispensacionalmente Considerados
Cornelius R. Stam
 
 


