Atos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XXXV – Atos 19:23-41 (3)

Acts dispensationally considered

 

O TUMULTO

     Dinheiro e religião! Onde poderia haver dois elementos mais inflamatórios para começar uma revolta louca?

     Quando os homens da associação, cheios de “ira”, continuaram a clamar em voz alta a Diana, “encheu-se de confusão toda a cidade” (Vers. 28, 29).

      Parece que nesse ponto os homens da associação procuraram capturar Paulo, a quem Demétrio havia mencionado pelo nome, mas, não conseguindo encontrá-lo, apanharam Gaio e Aristarco (dois dos companheiros de viagem de Paulo) e levaram-nos ao teatro para sujeitá-los à sua própria forma de “justiça”. Se a casa de Áquila e Priscila era o local de alojamento de Paulo em Éfeso, esta pode ter sido a ocasião em que “expuseram as suas cabeças” por ele (Rom. 16:4); pelo menos não sabemos de nenhuma outra ocasião específica a que este tributo de Paulo se pudesse referir adequadamente.

     Vendo Gaio e Aristarco tomados à força, e concluindo que no teatro, eles poderiam saber tudo sobre o distúrbio, as pessoas do lugar “unânimes correram ao teatro” (Ver. 29).[1]

     Onde o apóstolo esteve neste interim, nós não sabemos, mas aprendemos do tumulto que ele agora teria entrado no meio do povo, se os discípulos não o tivessem impedido de o fazer. É um testemunho do caráter de Paulo que neste ponto “os principais da Ásia [Lit., Asiarchs[2]], que eram seus amigos” enviaram-lhe uma mensagem, pedindo que ele não se aventurasse no teatro (Ver. 31) . Evidentemente, Paulo ganhou o respeito e a admiração, e até o afeto, desses homens proeminentes, de modo que agora, embora eles não fossem crentes, provaram ser seus verdadeiros amigos.

     Enquanto isso, uma confusão reinou no teatro. “Uns, pois, clamavam de uma maneira, outros, de outra, porque o ajuntamento[3] era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado” (Ver. 32).

     Na excitação, um homem chamado Alexandre foi destacado da multidão, “impelindo-o os Judeus para diante” (Ver. 33). Alguns supõem que este era o Cristão Alexandre de 1 Tim. 1:20, antes da sua deserção, e que os judeus o puseram à frente para o entregar à vingança da turba. Mas há objeções intransponíveis a essa visão, especialmente porque os próprios Judeus se opunham à adoração de Diana e dificilmente se colocariam numa posição tão comprometedora.

     É muito mais provável que este Alexandre seja o "latoeiro" referido em 2 Timóteo 4:14, que fez a Paulo “muito mal”, provavelmente nesta mesma ocasião. É evidente que este homem, apresentado pelos judeus, estava prestes a fazer “uma defesa” (e não a “sua defesa”) ao povo. Provavelmente os Judeus, eles próprios opostos à adoração de ídolos, temiam que eles pudessem sofrer a ira dos ourives e assim escolheram entre si um homem de “obras semelhantes”, um latoeiro, para explicar que eles não causaram a abjuração de Diana - isto, quando eles, como adoradores do único Deus verdadeiro, deveriam ter apoiado Paulo neste conflito.

     Contudo, nem foram dados ouvidos a Alexandre. A multidão sabia bem que os Judeus eram inimigos genéticos da idolatria e quando eles viram que Alexandre era um dessa raça, a sua confusão dissipou-se logo e como um só homem gritaram "Grande é a Diana[4] dos Efésios" (Ver. 34) continuando isso por duas horas.

     Temos aqui um exemplo de quão errada a maioria pode ser, e quão pouco são confiáveis são a visão e os sentimentos. Eis-nos perante uma demonstração massiva de sentimentos emocionais profundos, mas totalmente doentios e com um efeito totalmente imprevisível. Tal demonstração estava repleta de grandes perigos, pois uma turba fanática como esta, com emoções estimuladas a um tom tão elevado, podia fazer quase tudo.

     Depois de duas horas, no entanto, o “escrivão da cidade” (a principal autoridade da cidade) conseguiu apaziguar o povo. Mostrando-se ao mesmo tempo diplomatático e persuasivo, como um homem do mundo, ele primeiro acalmou os sentimentos da multidão em relação a Diana.

     “… qual é o homem que não sabe”, perguntou ele, “que a cidade dos Efésios é a guardadora[5] do templo da grande deusa Diana e da imagem que desceu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente” (Vers. 35,36).

     Isso, dizemos, foi bem calculado para acalmar a tempestade de emoções, mas a conclusão do funcionário da cidade foi tão fraca quanto a sua premissa. “Qual é o homem que não sabe?” “Ora, não podendo isto ser contraditado!" As massas, naturalmente, aceitariam prontamente como verdade aquilo que lhes é dito que "toda a gente sabe". De facto, talvez não exista nada que sustente espiritualmente até mesmo a grande maioria dos crentes, como o pensamento de que eles não devem repudiar aquilo em que comummente se acredita, nem aceitar aquilo que não é comummente aceite, colocando assim a opinião humana acima da revelação divina. Agradeçamos a Deus por a verdade repousar sobre uma base mais firme do que as opiniões confusas e mutáveis dos homens decaídos! O funcionário da cidade falou com muita confiança de Diana e da sua glória, mas Diana e o seu templo já são memórias do passado e a sua glória secou e se foi.

     Em seguida, o funcionário da cidade teve uma palavra em defesa de Paulo e os seus associados. Eles não foram "sacrílegos [ou, ladrões do templo]" nem blasfemos da sua “deusa” Diana (Ver. 37). O cuidado deles em não ridicularizar esta deusa pagã mostra o comedimento que os cooperadores de Paulo haviam exercido sob a sua liderança e pelo seu exemplo. No registo do seu ministério entre Judeus e Gentios, nós encontramo-lo a argumentar, debater e persuadir com frequência, mas nunca a insultar ou a ridicularizar. Agora isso estava tudo a seu favor.

     À luz de tudo isto, argumentou o funcionário do município, que Demétrio e os artesãos poderiam apresentar qualquer queixa contra Paulo e os seus associados nos termos prescritos na lei. E isto ele coroou com um sério lembrete de que o governo Romano olhava com severo descontentamento para qualquer situação de ilegalidade.

     Tendo assim acalmado as paixões da multidão e restaurado a ordem, o escrivão deu por concluída a assembleia.

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[1] As ruínas deste antigo anfiteatro ainda estão de pé. Provavelmente tinha mais de vinte e cinco mil lugares sentados.

[2] Os Asiarchs eram homens de riqueza e posição escolhidos para presidir a festivais e jogos públicos.

[3] Da palavra Gr. ekklesia, traduzida por igreja bem largas dezenas de vezes, mas por ajuntamento (ou, assembleia) aqui e nos Vers. 39,41. A ocorrência desta palavra aqui é mais uma confirmação do facto de que o seu uso em Atos 2 não é prova de que o Corpo de Cristo tivesse começado em Pentecostes. Deus teve Sua ekklesia ao longo dos tempos. Veja Atos 7:38 e LXX (a tradução Grega do Antigo Testamento) onde a palavra congregação (palavra sinónima) ocorre dezenas de vezes. A ekklesia de 19:32 não era, é claro, a igreja de Cristo, embora o que é dito sobre ela possa descrever bem a confusão que prevalece na Igreja professa.

[4] Uma vez que muitos dos adoradores de Diana traziam as suas ofertas a ela no templo, os roubos eram bastante comuns.

[5] A cidade de Éfeso é assim personificada como devota a Diana.

 

 

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