Actos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XV - ACTOS 9:17-19
SAULO BAPTIZADO
“E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.
“E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi baptizado.
“E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco”. - Actos 9:17-19.
A conversão e comissão de Saulo foi representativa. Em vez de esmagar imediatamente a rebelião contra Cristo, Deus estava agora a salvar homens rebeldes e a enviá-los, como Saulo, de novo ao território inimigo com a oferta da reconciliação por graça mediante a fé.
Contudo deve ser enfatizado que a conversão de Saulo não foi senão o primeiro passo nesta direcção. A salvação do líder da rebelião do mundo, a chamada de um outro apóstolo, separado dos doze: estes não foram senão os primeiros desvios do programa profético. Este programa deveria ser gradualmente eliminado e temporariamente substituído – pelo programa parentético do mistério. Como um todo, nesta altura, o programa profético ainda prevalecia.
Isto é claramente visto no facto do Espírito Santo (como operava então) ter sido comunicado a Saulo pela imposição de mãos, e da sua vista ter sido miraculosamente restaurada do mesmo modo.
Isto também é claramente visto no facto de ele ter sido baptizado com água para “lavar” os seus pecados (Ver Actos 22:16). Certamente que sabemos que a lavagem da água era apenas simbólica; que em si não podia lavar um único pecado; que Saulo foi salvo essencialmente pela graça e poder de Deus. Na realidade cedo iria tornar conhecida esta verdade, ao pregar “o evangelho da graça de Deus”. Contudo o facto de que uma nova dispensação começara não significa que a velha passara. Os outros apóstolos ainda não podiam ter compreendido os propósitos secretos de Deus, nem lhes tinha sido indicado que a acção da sua “grande comissão” seria interrompida, daí o baptismo na água ser ainda requerido, juntamente com a fé, para a salvação (Marcos 16:15,16) na altura que Saulo se converteu, e todo o crente ser “baptizado para remissão de pecados” (Actos 2:38).
O facto de que a velha dispensação ainda prevalecia nessa altura é ainda mais enfatizado pelo tipo de homem que Deus escolheu para baptizar Saulo. Mais tarde Paulo diz dele:
“E um certo Ananias, VARÃO PIEDOSO, CONFORME A LEI QUE TINHA BOM TESTEMUNHO DE TODOS OS JUDEUS QUE ALI MORAVAM, vindo ter comigo ... “ (Actos 22:12,13).
Os que contendem dizendo que a nação de Israel foi posta de parte na cruz e que Pedro e os onze foram então enviados pelo Cristo ressuscitado a pregar “o Evangelho da graça de Deus” devem-se ver atrapalhados para explicar porque é que até Paulo mais tarde foi baptizado por um Judeu devoto, observador da lei, para lavagem dos seus pecados!
Não; a conversão de Saulo não foi o fruto de uma mensagem de graça pregada pelos doze. Ele foi salvo “pela revelação de Jesus Cristo” quando o programa profético e a “grande comissão” estavam ainda em força. Mas a sua salvação e o seu ministério introduziram “a dispensação da graça de Deus”, a qual emergiria gradualmente do beco sem saída causado pela falha de Israel em aceitar o Messias.
Após os três dias de introspecção de alma terem terminado com a restauração da sua vista e o seu baptismo, ele recebeu alimento e foi fortalecido. Ele passou depois alguns dias mais com os discípulos no que deve ter sido a comunhão mais tocante e terna, mas como poderia ele permanecer calado por mais tempo?



