Actos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XV - ACTOS 9:10-16 (Cont.)
QUÃO GRANDES COISAS ELE DEVE SOFRER
Quando contemplamos a conversão de Saulo à luz da história sacra descobrimos que há mais do que uma consequência natural na predição do Senhor: “Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo Meu nome”.
Saulo, como salientámos, tinha representado o mundo na sua inimizade contra Cristo. Israel tinha-se unido aos Gentios na sua rebelião e Saulo de Tarso liderava-os nessa rebelião. Tinha sido declarada guerra contra Deus e o seu Cristo no apedrejamento de Estevão e na grande perseguição que se seguiu.
Como responderia Deus? As Escrituras do Velho Testamento são unânimes na sua resposta. Ele faria uma contra declaração de guerra, esmagaria a rebelião, e estabeleceria Cristo como Rei e despeito deles. Há duas passagens dos Salmos que testemunham vividamente este facto:
Sal. 2:1-9: “Por que se amotinaram as gentes, e os povos (de Israel, ver Actos 4:25-27) imaginam coisas vãs?
“Os reis da terra se levantam, e os príncipes, juntos, se mancomunam contra o Senhor, e contra o Seu Ungido, dizendo:
“Rompamos as Suas ataduras, e sacudamos de nós as Suas cordas.
“AQUELE QUE HABITA NOS CÉUS SE RIRÁ; O SENHOR ZOMBARÁ DELES.
“ENTÃO LHES FALARÁ NA SUA IRA, E NO SEU FUROR OS CONFUNDIRÁ.
“EU, PORÉM, UNGI O MEU REI SOBRE O MEU SANTO MONTE DE SIÃO.
“Recitarei o decreto: O Senhor Me disse: Tu és meu filho, eu hoje te gerei.
“Pede-me, e Eu Te darei as nações por herança, e os filhos da terra por Tua possessão.
“Tu os esmigalharás com uma vara de ferro, Tu os despedaçarás como a uma vaso de oleiro.”
Sal. 110:1: “Disse o Senhor ao Meu Senhor: ASSENTA-TE À MINHA DIREITA, ATÉ QUE PONHA OS TEUS INIMIGOS POR ESCABELO DOS TEUS PÉS.”
Nem nesta profecia nem em qualquer outra do Velho Testamento, há qualquer indicação de que seria concedido aos rejeitadores de Cristo um período de graça. Contudo, como agora sabemos o Senhor interrompeu graciosamente o programa profético e introduziu “a dispensação da graça de Deus”. Anteriormente este propósito revelador do Seu amor tinha sido guardado em segredo (Ef. 3:1-3).
Em vez de trazer a grande tribulação e julgar imediatamente o mundo, o Senhor escolheu antes permanecer Exilado, rejeitado e desprezado da terra, de modo a que pudesse oferecer reconciliação pela graça a todos que a recebessem. Em vez de vir em juízo e guerra (Apoc. 19:11) enviou embaixadores para proclamarem graça e paz (Gál. 1:3) por meio dos méritos da Sua cruz.
O próprio Saulo foi enviado como o primeiro embaixador; um embaixador de reconciliação para um mundo em inimizade com Deus. Assim como antes da sua conversão ele tinha viajado às cidades estrangeiras por “autoridade e comissão dos principais dos sacerdotes” a fim de perseguir outros, assim agora também ele viajaria às cidades estrangeiras por autoridade e comissão de Cristo ascendido, a fim de proclamar as boas novas da Sua graça. Seria uma missão perigosa, pois um embaixador em território inimigo só pode esperar dificuldade, prisão e mesmo morte, porém o apóstolo sofreu tudo isto alegremente pelo Cristo que tinha perseguido, especialmente uma vez que ele não sabia por quanto tempo perduraria o período da graça.
Isto explica uma das suas declarações na carta aos Colossenses com a qual muitos têm ficado embaraçados para a explicar:
“Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Col. 1:24).
Esta passagem de modo algum indica que a morte do Senhor no Calvário não foi suficiente para pagar todo a dívida do pecado. Tem antes a ver com as presentes aflições de Cristo que nós, seus embaixadores, sofremos, ou deveríamos sofrer por Ele.
A atitude do mundo para com Cristo não mudou. Se Ele estivesse hoje novamente aqui torna-Lo-iam a crucificar. Contudo Ele está exaltado acima de tudo, fora do seu alcance. Somos nós assim que “cumprimos” ou “completamos” aquilo que ainda resta das Suas aflições.
E Saulo é o nosso líder nisso. Ele conduzira a rebelião e perseguiu cruelmente os crentes. Deus agora, permitindo que a rebelião continuasse, salvou Saulo, enviando-o como embaixador da reconciliação aos Seus inimigos. Assim ele agora tinha de suportar o sofrimento que ele uma vez infligira aos outros – sofrendo por Cristo. Ah, mas tal sofrimento é doce. Ele denominara-o “a comunhão dos Seus sofrimentos” (Fil. 3:10). Ele regozija-se n'Ele (Col. 1:24).
E nós também o seguimos nisto, pois também somos embaixadores da graça; nós, salvos pela graça.
Por isso o apóstolo diz-nos:
“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n’Ele como, também padecer por Ele” (Fil. 1:29).



