Ver Deus - O Propósito da Vida
Porém, se procurarmos na Bíblia, encontraremos uma resposta clara e simples para essa questão fundamental. Ela afirma pura e simplesmente que só existe um propósito para a humanidade, e este propósito é o mesmo, independente de sexo, idade, nacionalidade ou classe social.
“Que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas o Senhor, teu Deus, andes em todos os Seus caminhos, e O ames?” (Dt 10.12)
“Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que [...] andes humildemente com o teu Deus” (Mq 6.8).
“Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30).
A Bíblia responde, portanto, à pergunta “Qual o propósito da vida?” com esta resposta: conhecer, amar e andar com Deus; numa palavra, ver Deus. De facto, nos tempos antigos, dizia-se que “a finalidade da vida” era “a visão de Deus”. Os teólogos que, no século XVII, elaboraram a Confissão de Westminster, responderam à pergunta “Qual o fim principal do homem?” com esta resposta: “O principal fim do homem é glorificar a Deus e encontrar prazer nele para sempre” (ou “gozá-lo para sempre”, como rezam as traduções oficiais dessa Confissão).
Actualmente, porém, quase não se ouve falar da necessidade de ver Deus. Somente quando nos voltamos para os tempos antigos é que nos damos conta da falta dessa ênfase, tanto na pregação como na vivência do Evangelho. No passado, mesmo nos tempos de trevas espirituais, sempre havia alguns que se consumiam por uma paixão avassaladora – o anseio de ver Deus. Para essas pessoas, só havia um objectivo: conhecer o seu Deus. Elas tinham uma sede de coração e sabiam que só Deus podia satisfazê-la.
Quando lemos sobre a sua busca apaixonada por Deus, descobrimos que algumas dessas pessoas enveredaram por caminhos estranhos. Havia gente que ia viver nos desertos, em cavernas ou que se retirava para um mosteiro. No desejo de alcançar a santidade “sem a qual ninguém verá a Deus” (Hb 12.14), eles desfaziam-se de todo e qualquer bem material ou mortificavam a sua carne com suplícios. Às vezes, eram fanáticos; outras vezes, viviam numa introspecção mórbida. Hoje, nós vemo-los como pobres almas desorientadas, escravizadas pelo legalismo e pelo ascetismo. Mas não devemos esquecer que tudo isso era feito no veemente desejo de buscar a Deus e de alcançar a santidade pessoal, a fim de que pudessem ver Deus.
Actualmente, a situação é bem diferente. Temos muito mais luz em relação aos textos bíblicos e à mensagem do Evangelho, e olhamos para esses antigos irmãos com um certo desprezo. Infelizmente, porém, essa maior clareza que hoje temos sobre a Bíblia não veio acompanhada de uma crescente paixão para ver Deus. De facto, parece que teve o efeito contrário. Aquela fome e sede de Deus estão claramente faltando, e, aparentemente, temos baixado o nosso alvo na vida cristã para algo bem inferior ao próprio Deus.
Hoje, temos duas ênfases que sobressaem. Primeiro, em vez de buscar santificação para ver Deus, o alvo tem sido simplesmente servir a Deus. Passamos a pensar que a vida cristã consiste em servir a Deus da forma mais competente e eficiente possível. As técnicas e os métodos que queremos usar para transmitir a mensagem de Deus é que se tornaram no mais importante. Para realizarmos esse trabalho, precisamos de poder e, assim, em vez de alimentar um anseio por Deus, buscamos poder para servi-lo de forma mais eficaz. De tal forma o serviço passou a ocupar o centro do nosso pensamento que, para avaliarmos a rectidão de uma pessoa diante de Deus, olhamos para o sucesso do seu trabalho na obra cristã.
Em segundo lugar, existe hoje uma tendência em buscar experiências espirituais interiores. Enquanto muitos cristãos se contentam em viver num nível muito baixo, é animador ver que há gente preocupada com isso. Muitas vezes, porém, essa preocupação não vem tanto da fome de Deus, mas de um anseio por encontrar felicidade, alegria e poder no seu íntimo. Neste caso, acabamos buscando uma experiência em vez de buscar o próprio Senhor.
Tanto um objectivo quanto o outro estão muito aquém da grande e suprema finalidade para a qual Deus nos criou, que é glorificar o Seu nome e sentir prazer na Sua companhia. Jamais conseguirão satisfazer nem o coração de Deus, nem o nosso.
Roy Hession