Casamento e a Glória de Deus


Albert Moheler

     “Queridos irmãos, estamos aqui reunidos perante Deus e toda esta congregação para unir este homem e esta mulher no Sagrado Matrimónio, o qual é um estado honroso, instituído por Deus no tempo da inocência do Homem, significando-nos a união transcendente que existe entre Cristo e a Sua Igreja.”

     Esta linguagem familiar do Livro Anglicano da Oração Comum, recitado milhares de vezes a cada semana sob várias formas, apresenta uma visão do casamento como uma instituição profundamente Cristã – mesmo até um necessário retrato do amor que une Cristo e a Sua Igreja. Por o casamento significar esta “relação transcendente”, ele canaliza-nos para uma perspectiva que nos leva muito além da relação entre marido e mulher. Será que a maioria dos Cristãos tem a mínima noção disto?

Já é suficientemente mau que o mundo deste século tenha despromovido o casamento a um contrato pseudo-legal que, tal como os outros contratos voluntários, pode ser celebrado ou quebrado à vontade. A maior tragédia é a falha dos Cristãos em levar o casamento a sério. De acordo com a Bíblia, o casamento não só está estruturado pelo Criador como um ambiente para a felicidade humana e para a continuação da espécie humana – ele é também o ambiente da glória de Deus, onde as delícias e as restrições do casamento apontam ao propósito para o qual os seres humanos foram feitos.

     O casamento está relacionado com a nossa felicidade, a nossa santidade, e a nossa plenitude – mas está essencialmente relacionado com a glória de Deus. Quando o casamento é encarado da forma correcta, quando os votos do casamento são guardados com pureza, quando todas as maravilhas do casamento são usufruídas no seu devido lugar – Deus é glorificado.

     O nosso objectivo principal é glorificar a Deus – e o casamento é um meio para a Sua grandiosa glória. Como pecadores, estamos todos muito preocupados com os nossos prazeres, as nossas realizações, as nossas prioridades, a nossa concepção de casamento como um assunto privado. O derradeiro propósito do casamento é a grandiosa glória de Deus – e Deus é mais grandiosamente glorificado quando as Suas ofertas são correctamente celebradas e recebidas, e as Suas alianças são convenientemente honradas e respeitadas.

     O casamento não é muito respeitado na nossa cultura pós-moderna. Para muitos, a aliança do casamento tem sido descartada em favor de uma relação de co-habitação. Uma filosofia de autonomia pessoal tem produzido gerações sucessivas que pensam no mundo como um cenário das suas próprias realizações pessoais e do casamento como uma relíquia antiquada de uma cultura excessiva de obrigação.

A nossa é uma era de auto-expressão. Cada um expressa-se através do casamento, e posteriormente, através do divórcio – como se tudo na vida não fosse mais do que uma sucessão de actos de auto-expressão.

     Uma cultura de divórcio apresenta-nos “obrigação” e “promessas sagradas” como manifestações temporárias de disposição emocional. Pode apetecer-me estar casado hoje – pode não me apetecer estar casado amanhã.

     A nossa cultura está tão confusa em relação ao sexo que os prazeres do sexo são separados dos votos e obrigações do casamento. Graças às tecnologias modernas, é possível termos sexo sem bebés, bebés sem sexo, e ambos sem casamento. Para muitos, o casamento transformou-se numa futilidade.

Para outros ainda é pior. Alguns têm desprezado o casamento como uma prisão doméstica, uma instituição patriarcal e opressiva disfarçada por homens e mulheres insuspeitos de modo a negar-lhes liberdade, autonomia, realização pessoal, e libertação. E, para uma cultura pós-Cristã, existe aquele problema incómodo do carácter essencial do casamento como instituição sagrada. Uma sociedade que não acredita em Deus eventualmente deixará de acreditar no casamento.

     Casais Cristãos que estão empenhados nesta superior concepção de casamento têm de se encarar a eles próprios como contra-revolucionários. Numa perspectiva bem real, eles são-no. Eles permanecem contra a onda da opinião pública, contra a tendência da moralidade moderna, contra a deterioração da ordem e o mercado deflacionário da fidelidade. Perante Deus, eles permanecem comprometidos um com o outro – e somente um com o outro. Vivendo juntos um para o outro, independentemente do que possa vir.

     A igreja tem reconhecido três grandes propósitos do casamento, e todos estes três têm sido subvertidos pela revolução sexual e o seu corolário.

     O primeiro é a geração e criação de filhos, se Deus providenciar filhos ao casamento. Este propósito é desonrado por muitos, mas é honrado entre os crentes no Senhor Jesus Cristo. Os filhos são para ser recebidos como ofertas à instituição do casamento, transformando marido e mulher em pai e mãe. Na nossa era anti-natal, alguns vêem as crianças como imposições – ou pior. A negação de uma orientação procriadora para o casamento – todo o casamento genuinamente aberto à dádiva das crianças – é uma negação da visão bíblica do casamento em si mesma.

     O segundo grande propósito do casamento, tal como os antigos escritos o expressam, é “como um remédio contra o pecado, e para evitar a fornicação … que [os crentes] possam casar e manter-se membros firmes do corpo de Cristo.” Casamento como um remédio para o pecado? Este propósito é ridicularizado por entre muitos, mas é honrado entre os discípulos de Cristo. Isto é exactamente o que o Apóstolo Paulo tomou como sua preocupação ao escrever à igreja em Corinto. Confundida e seduzida pelo pecado sexual, aquela igreja tinha comprometido a sua própria capacidade de representar Cristo. Paulo referiu-se ao casamento como meio de canalizar o desejo sexual no seu contexto apropriado, não fossem os crentes “abrasar-se” e pecar contra Deus. [1ª Coríntios 7:9]

     A nossa cultura transformou o “abrasar-se” numa forma de arte hedonística. Sexualidade explícita – despida das restrições do casamento – é a energia por detrás de muito da nossa economia, o material para entretenimento, o objecto da arte, o estimulante da publicidade. Aqueles que acreditam que o relacionamento sexual deve estar limitado ao casamento são discriminados como retrógrados morais, criaturas antiquadas e sem emenda que simplesmente não fazem a mínima ideia do que é o mundo moderno.

     A terceira grande finalidade do casamento é o companheirismo ao longo da vida, pelo bom e mau, conforto e perda, doença e saúde, até que a morte separe marido e mulher. O mistério da plenitude é expresso na declaração em que “os dois se tornarão um”. Quando um homem e uma mulher trocam votos de casamento, eles tornam-se uma só unidade. Depois da troca destes votos, não podemos mais falar do marido sem a mulher, ou da mulher sem o marido. Eles tornaram-se unos, tanto na união física do acto marital como na união metafísica da ligação marital. Como par casado – marido e mulher – eles viverão para a glória de Deus um com o outro, pelo outro e para o outro.

     A finalidade do casamento é o seu início – a glória de Deus, o mistério de Cristo e a igreja. A exclusividade e pureza da ligação do casamento aponta para a exclusividade e pureza do relacionamento entre Cristo e a Sua igreja.

     Como é que o casamento glorifica a Deus? Tertuliano, um dos primeiros pastores da igreja, revela sabedoria: “Como é belo, pois, o casamento de dois Cristãos, dois que são um em casa, um em desejo, um no modo de vida que seguem, um no culto que praticam… Nada os divide, quer em corpo, quer em espírito… Eles oram juntos, eles adoram juntos, eles firmam-se juntos, instruindo-se um ao outro, encorajando-se um ao outro, fortalecendo-se um ao outro. Lado a lado eles visitam a igreja de Deus e participam no banquete de Deus, lado a lado eles enfrentam dificuldades e perseguição, partilham as suas consolações. Eles não têm segredos um para com o outro; eles nunca repudiam a companhia um do outro; eles nunca trazem desgosto ao coração um do outro… Ao ver isto Cristo alegra-Se. A estes tais Ele concede a sua paz. Onde existem dois juntos, Ele aí também está presente.”

     O casamento é fonte de grande e indescritível felicidade. No entanto, por causa do pecado, não se trata de felicidade plena. Mas o casamento não é primeiramente e acima de tudo para nos fazer felizes. É para nos santificar. E pela aliança do casamento dois Cristãos prometem solenemente viverem juntos de modo a se tornarem um ao outro santos diante de Deus, como um testemunho a Cristo.

     Mantenham isto em mente no meio dos activos debates actuais sobre o casamento. O casamento é primeiramente e acima de tudo para glória de Deus. Todas as demais dádivas do casamento derivam desse grande facto.

R. Albert Mohler, Jr.
Tradução de Luis Macedo

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